Planeado combate em terra contra os piratas na Somália
30 de dezembro de 2011Está previsto um alargamento das competências dos efetivos da missão antipirataria no Corno de África. De futuro, os soldados da missão “Atalanta” deverão combater os piratas também em terra, noticia a imprensa alemã. O objetivo primordial é destruir as bases de apoio logístico dos piratas nas praias da Somália. A imprensa reporta-se a informações prestadas por fontes militares, segundo as quais uma hipótese é atacar os botes dos piratas em terra com helicópteros, a partir dos vasos de guerra.
Na quinta-feira (29.12), o comando da operação da European Naval Force (EUNAVFOR) recusou-se a confirmar ou desmentir os planos. Interpelado pela Deutsche Welle, o porta-voz da EUNAVFOR, Harrie Harrison, respondeu: “Os militares estão sempre a fazer planos. Não quer dizer que sejam concretizados”.
175 ataques em 2011
Até à data, a missão antipirataria da União Europeia limitava-se a patrulhar o mar ao largo da costa somali, para assegurar o abastecimento com assistência humanitária e proteger cargueiros da agressão dos piratas. Só neste ano registaram-se 175 ataques, após 117 em 2009 e 127 um ano mais tarde. No entanto, aumentou também o número de ataques gorados devido à intervenção militar. Em 2010 foram sequestrados 47 barcos no Corno de África, este ano 25. A EUNAVFOR conseguiu impedir 26 abordagens, diz Harrison.
O mandato atual, que expira no final de 2012, apenas prevê que os soldados controlem os barcos, procedam a detenções em casos de suspeita justificada e impeçam ataques, se necessário com a força das armas. O mandato autoriza ainda voos de reconhecimento.
Missão em terra?
Atualmente, a marinha de guerra alemã participa na missão “Atalanta” com uma fragata, a “Lübeck”, e cerca de 270 soldados. Segundo o jornal alemão Frankfurter Algemeine Zeitung, no próximo ano também o barco de abastecimento, “Berlin”, poderá ser enviado para o Corno de África. Trata-se de um navio de grande porte, que poderá transportar helicópteros do tipo “Sea King”, com um alcance bastante superior ao dos helicópteros de bordo que podem levantar voo de uma fragata. Teoricamente isso possibilitará operações em terra.
O especialista em política de defesa do Partido Social-Democrata alemão na oposição em Berlim, Rainer Arnold, rejeita os planos agora divulgados. Arnold disse à Deutsche Welle que estava “muito cético”. Embora admitindo que a pirataria só possa ser derrotada na própria Somália, para o que é necessária uma estabilização política, o deputado acrescenta: “A ideia de combater os piratas em terra é aventureira. Carece de seriedade política e planeamento”. Os riscos, diz, são “demasiado elevados”. Para os minimizar, seria necessário enviar também a infantaria. Além de que o Parlamento Federal teria que aprovar um alargamento do mandato.
Autorização necessária do governo somali
Também a o governo de transição da Somália teria que aprovar operações em terra. Mas tudo indica que esse processo já foi posto em andamento. Fontes militares avançam que a Representação da UE para os Negócios Estrangeiros já falou com o governo de Mogadíscio sobre a questão. Os governantes somalis terão inclusive dado o seu acordo. Mas o executivo, que é apoiado por soldados da União Africana, não tem autoridade para além dos muros da capital neste país assolado pela guerra civil há vinte anos.
Na Somália não existe um monopólio estatal do poder, nem sequer uma guarda costeira, fatores que beneficiam as atividades dos piratas. A organização não-governamental, “One Earth Foundation” calcula que em 2005 foi pago um resgate de 100 000 euros por um barco sequestrado. Em 2010, a soma paga atingiu os 3,7 milhões de euros. A missão “Atalanta”, na qual participam 26 estados, quatro dos quais não são membros da UE, tenta pôr cobro à pirataria. Como esta ameaça o comércio mundial, também a Organização do Tratado da Aliança do Norte (NATO) lançou uma operação de nome "Operation Ocean Shield". Acresce a missão "Combined Maritime Forces" dos Estados Unidos da América, para além de operações antipirataria levadas a cabo no Oceano Índico pela Rússia, Índia, China, e Japão.
Autor: Daniel Scheschkewitz/Pedro Varanda de Castro
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha