Polícia angolana impede visita da UNITA a populações desalojadas
25 de fevereiro de 2013
O incidente faz lembrar os tempos acirrados do pós-guerra em Angola. Onze anos depois do fim do conflito, o líder do maior partido na oposição, a UNITA, viu a sua delegação ser travada pela polícia numa visita a milhares de vítimas de demolições a norte de Luanda.
Dois deputados, Navita Ngolo e José Pedro Kachiungo, foram agredidos à bastonada. "Não é a população que me está a agredir, são os agentes da autoridade", disse Kachiungo. "E agrediram toda a gente."
Isaías Samakuva, o presidente da UNITA, disse estar "profundamente triste" pelo "papel ignóbil e indigno a que se prestaram compatriotas que aparentam ser homens que deviam ter alguma dignidade humana. São jovens que aparentam possuir uma certa intelectualidade, mas que se prestaram a fazer um papel rasteiro, indigno e vil."
Acusação
Samakuva acusa o MPLA de estar por trás destes acontecimentos. O MPLA, por sua vez, passa à defesa nas palavras do deputado Norberto Garcia.
"Não corresponde à verdade esta ação do partido político UNITA, que, como oposição, deve ter uma ação responsável, séria e sentido de Estado", disse o deputado.
O presidente da UNITA queria visitar as pessoas que viram as suas casas serem deitadas abaixo no início do mês, numa zona conhecida como “Mayombe”, a norte de Luanda. As autoridades disseram querer utilizar essa área para construir melhores infraestruturas.
Desde a altura das demolições que não há água, escolas ou, por exemplo, albergues para mulheres, crianças e homens.
Apreensão
O bloqueio policial à delegação da UNITA aconteceu exatamente na semana em que o partido assinalava os 11 anos da morte do seu líder fundador em combate, Jonas Savimbi.
O incidente provocou apreensão em alguns setores nacionais no último fim de semana, tendo em conta relatos de alguma intolerância política que, volta e meia, resulta em mortes no interior de Angola. Teme-se que possa ressurgir um conflito armado no país.
"Mas, a este propósito, o analista político Celso Malavoloneque diz que hoje em dia já não se pode questionar a reconciliação nacional em Angola, mesmo que aconteçam este tipo de incidentes:
"Não estou a ver a UNITA a voltar a ser um partido político-militar", comentou. "A UNITA quer ser definitivamente um partido civil, que começa a usar de uma forma cada vez mais exímia as armas que são postas à disposição pela democracia para o bem do país e do próprio processo democrático."
Em Luanda, o clima político não andava tão agitado desde as eleições. Para os próximos dias estão previstas conversações diretas entre as lideranças políticas dos dois maiores partidos, o MPLA e a UNITA.
Autor: Manuel Vieira (Luanda)
Edição: Guilherme Correia da Silva / Helena Ferro de Gouveia