Política externa ausente da campanha eleitoral em Angola
16 de agosto de 2017A política externa tem aparecido pouco, ou quase nada, nos atos de campanha dos partidos que concorrem às eleições do dia 23 de agosto em Angola. O foco têm sido os problemas sociais e a política interna.
"Este é o momento da caça ao voto, de convencer aqueles que estão indecisos e essa é a prioridade", diz Soy Komba, especialista angolano em Relações Internacionais.
MPLA e UNITA
Mas Diógenes de Oliveira, um dos candidatos a deputado pelo Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), do atual Presidente José Eduardo dos Santos, afirma que, apesar de o partido falar pouco de política externa, continuará a defender uma diplomacia ativa e cooperadora.
Em caso de vitória, serão mantidas as "relações tradicionais" com os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) e com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), garante em declarações à DW África. Diógenes de Oliveira explica que "em princípio, o MPLA é um partido aberto ao diálogo nas relações bilaterais e multilaterais com todos os países do mundo."
Já a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) diz que, se vencer as eleições, baseará as questões diplomáticas na reciprocidade de direitos e na igualdade de oportunidades. Raúl Danda, o vice-presidente do partido, promete trabalhar com todos os países, sem privilégios.
"Abriremos as portas a toda gente. Não vamos querer aqui privilégios de A ou B. Vamos trabalhar com toda a gente desde que respeitem Angola e os angolanos", sustenta Danda.
A DW África entrou em contato com a CASA-CE, mas a coligação não quis falar neste momento sobre política externa.
Portugal e Rússia
O especialista em Relações Internacionais Soy Komba acredita que haverá uma mudança na diplomacia de Angola apenas se um dos partidos da oposição vencer. E lembra as relações entre Angola e Portugal nos últimos dez anos: "Não têm sido das melhores".
Na opinião do especialista, há pessoas do poder político que têm problemas com Portugal. Mas com um novo partido no Governo "a política seria diferente".
Se o partido no poder sair derrotado das eleições gerais, Komba também espera uma mudança estratégica nas relações com a Rússia. O Governo do MPLA mantém uma longa relação com o país desde os tempos da independência. Há mais de quatro décadas que Luanda e Moscovo cooperam nos domínios económico, comercial, de assistência técnica e segurança. Mas isso poderia mudar se um partido da oposição ganhasse a 23 de agosto.
"Não acredito que um partido que andou anos na oposição mantenha a mesma política externa em relação à Rússia. Haverá sempre uma mudança", conclui.