Polícia moçambicana reprime marcha em Quelimane
13 de dezembro de 2019Os militantes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) estavam prestes a iniciar uma marcha em Quelimane, esta sexta-feira (13.12), para marcar o encerramento das atividades do ano juvenil. O município é governado pelo partido. Mas os jovens dizem ter sido surpreendidos pelas forças de segurança. Eles contam que a polícia os dispersou atirando para o ar balas reais e de borracha e usando gás lacrimogéneo.
Muitos manifestantes tiveram de ser socorridos no local por inalarem o fumo. Há registo de, pelo menos, três feridos ligeiros.
Vários membros da RENAMO que encabeçavam a marcha fugiram, e acusam a polícia de os perseguir.
"Eu, o organizador da marcha, quando cheguei ao local, apareceram logo dez polícias e o chefe das operações provinciais da PRM [Polícia da República de Moçambique]. Perseguiram-me e eu fugi", contou Helder Uajonda, diretor do departamento da Juventude no Conselho Autárquico de Quelimane.
Segundo Uajonda, as autoridades foram informadas na semana passada da realização da marcha. Este responsável não vê motivos para a polícia agir de forma violenta.
"A PRM recebeu a carta e hoje concentrámos os jovens na cidade de Quelimane. De repente, vimos a polícia a impedir a marcha, [alegando que] era ilegal e não tínhamos direito a marchar", afirma.
"Pensavam que estávamos a reivindicar os resultados das eleições de 15 de outubro, mas nós não temos nada a ver com os resultados das eleições. A polícia tem que nos proteger, eu não sei se essa polícia é da FRELIMO".
"Não há liberdade de manifestação"
A delegação política da RENAMO em Quelimane ainda não se pronunciou sobre estes acontecimentos.
O comando da Polícia da República de Moçambique na província da Zambézia rejeita avançar informações sobre o sucedido. O porta-voz, Sidner Lonzo, refere apenas que a polícia age obedecendo à lei.
Outro organizador da marcha, Jonathan Suleimane, disse à DW África por telefone que fugiu porque agentes da polícia cercaram a sua casa ao início da tarde desta sexta-feira.
"Nós temos o direito de nos manifestarmos e de protestar, mas praticamente neste país não há liberdade de manifestação", afirmou Suleimane. "Naquele processo de troca de tiros eu tive que me retirar do local, eles [a PRM] estão a procurar quem estava a organizar a marcha. [É] uma forma de mostrar a força e tentar intimidar as pessoas. Eu tive que me ausentar porque a situação não está boa do meu lado."
Esta não é a primeira vez que a polícia na Zambézia reprime uma marcha da RENAMO. Em fevereiro, vários membros do partido foram espancados, e 14 deles ficaram detidos durante quase cinco dias, quando marchavam em apoio ao atual edil de Quelimane, Manuel de Araújo. Um jornalista do Diário da Zambézia também foi espancado no local.