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Presidente angolano reage a manifestações contra o governo

15 de abril de 2011

Em duro discurso diante do próprio partido MPLA, José Eduardo dos Santos denunciou “oportunistas” que “querem trazer confusão a Angola”. Ele também negou semelhança entre realidade angolana e protestos no norte africano.

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José Eduardo dos Santos afirmou que manifestações são provocadas principalmente por partidos que temem perder as eleições em 2012
José Eduardo dos Santos afirmou que manifestações são provocadas principalmente por partidos que temem perder as eleições em 2012Foto: picture-alliance / dpa

Na abertura da primeira sessão extraordinária do Comité Central do MPLA, o partido no poder em Angola, o presidente angolano e líder da agremiação, José Eduardo dos Santos, disse que constatou articulações entre políticos da oposição e de alguns jovens para derrubar o governo no país. As manifestações ocorridas a 7/3 e 2/4 seriam prova disso, segundo citou o presidente, num discurso que foi avaliado por observadores como um dos mais duros dos últimos anos.

José Eduardo dos Santos negou semelhanças entre a realidade angolana e as revoluções no norte da África, afirmando que o país africano é diferente das nações do Magrebe, como a Tunísia, o Egito e a Líbia. O presidente de Angola disse que pessoas no país e no exterior estariam a pressionar para a queda de um governo eleito, incentivando mensagens na internet. “Nas chamadas redes sociais, que são organizadas via Internet, e nalguns outros meios de comunicação social fala-se de revolução, mas não se fala de alternância democrática”, disse dos Santos.

“Para essa gente, revolução quer dizer juntar pessoas e fazer manifestações, mesmo não autorizadas, para insultar, denegrir, provocar distúrbios e confusão, com o propósito de obrigar a polícia a agir e poderem dizer que não há liberdade de expressão e que não há respeito pelos seus direitos”, declarou o presidente angolano, que afirmou ainda que estão identificadas as pessoas que querem trazer para Angola o contexto externo.

José Eduardo dos Santos disse que as manifestações de jovens são motivadas por razões políticas, especialmente fomentadas por alguns partidos que, segundo ele, estariam temendo perder as eleições. “É esta via de provocação que estão a escolher para tentar derrubar governos eleitos que estão no cumprimento do seu mandato. Têm medo das próximas eleições de 2012”, atacou.

Numa primeira assunção sobre a realidade da pobreza, José Eduardo dos Santos foi claro ao dizer que esta é uma herança pesada do colonialismo. Reafirmou que já encontrou a pobreza, tal como os seus pais.

Detratores querem “fantoches” de estrangeiros ávidos por “pilhar riquezas” de Angola

Angolanos protestam em Londres (7/3). Manifestação que também deveria ter tido lugar em Luanda foi cancelada
Angolanos protestam em Londres (7/3). Manifestação que também deveria ter tido lugar em Luanda foi canceladaFoto: Huck

O presidente angolano disse que a corrupção não é exclusiva de Angola. Ele também criticou quem lhe atribui, na internet, uma fortuna de vinte mil milhões de dólares depositados num paraíso fiscal.

“Se essa pessoa fosse honesta e séria, devia indicar imediatamente ao departamento de diligência financeira do Banco Nacional de Angola os nomes dos bancos e os números das contas em que esse dinheiro está depositado”, desafiou José Eduardo dos Santos.

“Mas isso não é e nem será feito, porque se usa a mentira, a intriga, a desinformação, a manipulação, para dividir as forças patrióticas e afastar o povo do governo – preparando assim as condições para executarem os seus planos, para colocar fantoches no poder para que obedeçam à vontade das potências estrangeiras, que querem voltar a pilhar as nossas riquezas e fazer-nos voltar à miséria”, disse.

O analista político Reginaldo Silva vê nas palavras de José Eduardo dos Santos uma certa sensibilidade do regime angolano em relação a alguns assuntos, tendo em conta o contexto internacional atual. “Será possivelmente a primeira vez que o presidente Eduardo dos Santos reage pessoalmente a toda esta movimentação que nós já convencionamos chamar ‘os ventos do norte’, que tem a ver de fato com as turbulências políticas que aconteceram no norte da África e depois com as consequências que se estão a fazer sentir um pouco mais para o sul. E Angola, como já era previsível, não ficou indiferente a esse tipo de consequência”, avalia Silva.

Autor: Manuel Vieira (Luanda)

Revisão: Renate Krieger / António Rocha