Escassez de sal na Zambézia preocupa população
19 de setembro de 2018Dezenas de moradores em Maquival, na província da Zambézia, no centro de Moçambique, já estão há 5 meses sem sal para cozinhar.
Devido à escassez do produto, o único recurso na preparação de alimentos são as cinzas de lenha e a água salgada dos mangais da região, nos períodos de maré alta.
Vender aos chineses
Helena João, uma das residentes em Maquival, diz que a sua família está a enfrentar problemas de saúde por causa do uso constante da água do mangal. Ela afirma que os produtores de sal da região estão a preferir vender o produto aos chineses."Aqui não temos sal, o recurso para sabor de sal é a água do mangal. Alguns dias, fervemos esta água e utilizamos as pequenas partículas sólidas restantes na panela como o sal. Estamos a sofrer muito. Os produtores vendem sal aos chineses, e nós perguntamos: como os chineses chegaram até aqui só para levar sal?"
Memuna Menupa, outra residente de 50 anos de idade, está preocupada com a situação.
"Não estamos a consumir sal há vários dias. Sem sal nós nos alimentamos sem gosto, apenas para sobreviver. É a primeira vez que vejo isso. Nessa altura do verão tem havido muito sal por aí, com vendedores ambulantes, a um preço insuportável para todos. Vendem o sal para os chineses, porque os chineses têm muito dinheiro”.
Preços aumentam
A insuficiência de sal neste momento verifica-se em toda a região da província da Zambézia. Na cidade de Quelimane, a capital provincial, por exemplo, os comerciantes agravaram os preços da mercadoria.
Quinze quilos de sal, por exemplo, que antes custavam cerca de 200 meticais (cerca de 3 euros) atualmente custam 750 meticais (10 euros), 50 quilos chegam a custar ao consumidor 1600 meticais (cerca de 24 euros).A vendedora de sal Amélia Chico admite que a mercadoria está em falta devido à procura pelos chineses.
"Trazem camiões, recolhem todo sal, e nós ficamos assim com pouco sal. O preço que os chineses pagam é o mesmo, entre 1500 a 1600 meticais (cerca de 24 euros)".
As autoridades da província da Zambézia reconhecem o problema, mas garantem que nos próximos dias a situação deverá ser ultrapassada. O administrador de Quelimane, Carlos Carneiro, não duvida que os cidadãos chineses estejam a esvaziar o stock de sal, e acrescenta que "não é só sal, mas também o caranguejo, o camarão... Estamos a trabalhar com estes chineses para vermos se podemos controlar esta questão…, e também temos estado atentos e a ter algumas dificuldades nas principais e grandes salinas que se situam lá em Maquival, Idugo, onde os produtores necessitam de apoio financeiro para incrementar a sua produção".