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Angola: "Tinha tudo a perder, mas a causa era maior"

17 de outubro de 2022

Professor detido na marcha em que participaram mais de 300 alunos diz que protestou nas ruas devido à "responsabilidade social" como docente. "Pesou-me o coração fingir que nada se passa", afirma Diavava Bernardo à DW.

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Foto: Privat

O professor angolano detido pela polícia na última quinta feira (13.10) por ter organizado uma marcha com mais de 300 alunos contra a falta de carteiras escolares na escola 5108, no município de Viana, já está em liberdade. Diavava Bernardo está sob termo de identidade e residência, após ser ouvido pelo Ministério Público.

Em entrevista à DW África, o professor do ensino primário diz que realizou a marcha por não ter "outra alternativa". Diavava Bernardo conta que não conseguia ver mais os alunos sentados no chão ou de pé a assistir às aulas: "Chamei os estudantes para o campo e expliquei-lhes que tenho tudo a perder".

DW África: Foi detido por ter organizado uma marcha de alunos no município de Viana. Porque decidiu fazer o protesto?

Diavava Bernardo (DB): A marcha aconteceu em função da necessidade que eu senti, em particular, ao ver alguns estudantes a sentarem-se no chão, e outros de pé. Falta o básico para a aprendizagem. Não tive outra alternativa, até tento em conta a responsabilidade social que tenho enquanto docente. Em conversa com os restantes professores - lembrando que sou novo nesta escola, mas já tenho dez anos como professor -, a situação incomodou-me.

Na quinta-feira (13.10), chamei os estudantes para o campo e expliquei-lhes que tenho tudo a perder. Posso perder o emprego, por ser mal interpretado, mas disse que a causa era maior. Perguntei quem estava comigo, e a maior parte deles, senão mesmo todos os alunos do horário da manhã, começaram a marchar ao meu lado.

DW África: Foi por isso que foi detido e acusado de ter instigado vários alunos a vandalizar a escola?

DB: Quanto ao vandalismo, afirmo categoricamente que não! Não vi os estudantes a vandalizarem a nossa escola. Ouvi o diretor na esquadra a dizer que partimos carteiras, mas, com toda a transparência e falando de coração, eu não vi. A escola tem falta de carteiras e outras já estão danificadas. É esse o motivo que fez com que nós marchássemos até à repartição municipal.

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DW África: Foi posto em liberdade sob termo de identidade e residência. Sente-se intimidado ou pretende continuar a lutar pelos direitos dos alunos?

DB: A intimidação é consequência do medo. A psicologia diz-nos que o medo é um sentimento que nos previne de situações piores. Mas a responsabilidade é maior. Afinal de contas, trata-se do futuro do país.

DW África: É, por isso, que, denuncia numa das suas redes sociais que "sem condições nas escolas", os professores continuam "na falsidade", ensinando aos alunos que "Angola é um país rico e belo"?...

DB: É o que acontece. Pesou-me o coração ter que olhar para os estudantes e fingir que nada se passa. Isso é que é perigoso. O meu advogado disse-me isso, quando se deve falar e não se fala, o silêncio passa a ser alguma verdade.

DW África: Quer, com isso, dizer que a "revolução" para a mudança também passa pelas escolas? É isso?

DB: Lutar a favor do que é certo é uma responsabilidade de todos nós.

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