Professores moçambicanos denunciam "perseguição" do Governo
20 de fevereiro de 2024Em entrevista à DW, o presidente da Associação Nacional dos Professores de Moçambique (ANAPRO), Isac Marrengula, diz que as transferências que estão a ser feitas não são por necessidade das escolas, mas por perseguição política. "Isso ficou muito claro na última transferência de um colega que foi cabeça de lista e perdeu as eleições no conselho autárquico de Milange", denuncia.
A ANAPRO garante que está a trabalhar para que esses professores possam ser reconduzidos para as escolas onde trabalhavam.
A DW contactou o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique, mas não foi possível obter uma reação às acusações da Associação Nacional dos Professores.
DW África: O que leva a ANAPRO a acusar o Governo de transferir professores para escolas distantes, por motivos políticos?
Isac Marrengula (IM): Nós não estamos só a acusar o Governo, os professores estão a ser transferidos realmente. Nós confirmarmos isso. Não é uma transferência por necessidade das escolas, mas sim motivada por perseguição política. Isso ficou muito claro na última transferência de um colega que foi cabeça de lista e perdeu as eleições no conselho autárquico de Milange [província da Zambézia]. Ele também foi transferido para uma escola distante - porque é que o transferiram a ele e não a outros?
DW África: Como é que a associação pretende posicionar-se face a esta alegada transferência compulsiva de professores por motivos políticos?
IM: O primeiro caso deste género foi na província de Inhambane. Fomos até lá para nos reunirmos com o diretor provincial da Educação e do Desenvolvimento, mas disseram-nos que não têm conhecimento desta questão. Por isso, estamos a trabalhar neste momento para que os professores possam ser reconduzidos para as escolas onde trabalhavam ou para que se possa cumprir trâmites legais que devem seguidos, algo que não aconteceu na transferência desses colegas.
DW África: A ANAPRO denunciou também que os professores têm sido vítimas de ameaças por dirigentes do setor da educação e por membros do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Acha que isso é devido aos protestos dos professores?
IM: Uma das formas que eles encontram para fazer ameaças é através dessas transferências irregulares. A perseguição aos membros da associação acontece quando nós começámos a reclamar o pagamento das horas extras e demos orientação às pessoas para não trabalharem com as turmas enquanto o Governo não pagar na totalidade o que deve aos professores. Temos casos de colegas que diariamente ligam a pedir proteção, porque estão a sofrer ameaças, perseguições e injustiças por fazerem parte da associação.
DW África: Perante toda esta situação, a associação vai continuar com as suas reivindicações?
IM: O que nós aprendemos com essas perseguições é que, se eles começam a nos perseguir, é porque estamos no caminho certo, e uma vez que estamos no caminho certo, não temos como recuar. Porque se recuarmos agora, estaríamos a provar a todos os que nos têm perseguido que não estamos preparados para a revolução. Enquanto o Governo não garantir todos os direitos dos professores, nós não temos como recuar.