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Civis querem expulsar FDLR do Congo Democrático

25 de setembro de 2012

Milícia de congoleses, chamada "povo furioso que se vinga", começa a defender-se dos ataques, massacres, violações e pilhagens realizados pelas Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda no leste da RDC há 18 anos.

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O comandante Kikuny, líder da milícia civil "Raia Mutomboki"
O comandante Kikuny, líder da milícia civil "Raia Mutomboki"Foto: Simone Schlindwein

Shabunda é uma região no meio da selva do leste do Congo, onde não passa sequer uma estrada. É aqui que se escondem, desde 1996, os rebeldes hutu ruandeses das FDLR. Em tempos tinham o seu quartel-general perto da pequena aldeia de Nduma. Mas agora os rebeldes estão em fuga da população.

Porque em muitas aldeias os congoleses decidiram começar a defender-se contra os ruandeses, com as armas de que dispõem: machetes e lanças. Foi em Nduma que criaram a milícia civil que hoje opera em duas províncias, diz o padre Maurice Sambamba: "Somos a Raia Mutomboki, o povo furioso que se vinga, porque quando alguém te assalta e te rouba tudo, enches-te de fúria", declarou à reportagem DW África.

Porém, o padre Sambamba explica que esta fúria tem uma história: "Nós demos guarida aos rebeldes das FDLR que fugiram do Ruanda depois do genocídio. Foram recebidos como irmãos, apesar dos crimes horrendos que cometeram contra os seus irmãos tutsis. Demos-lhes terras para erguerem a sua própria aldeia. Mas depois eles começaram a atacar-nos", relata.

No genocídio do Ruanda em 1994, membros da maioria étnica hutu chacinaram cerca de 800 mil pessoas da minoria tutsi em cerca de cem dias. Em seguida muitos assassinos fugiram para a selva da vizinha República Democrática do Congo e formaram as FDLR. Este é considerado o movimento mais brutal no leste da RDC, porque explora sistematicamente a população local.

Por exemplo, em Nduma: "Pouco após a retirada dos soldados, em 2011, atacaram Nduma uma noite pelas 23 horas. Pilharam as casas. Todos os habitantes fugiram. Escondemo-nos na floresta. Só nos atrevemos a regressar dias mais tarde", lembra Sambamba.

"Na semana seguinte, voltaram a atacar", diz o padre. "Exigiram que cada lar passasse a pagar um tributo. Levaram cabras, porcos e galinhas. Em julho, voltaram a pôr fogo às nossas casas. Depois desses problemas todos decidimos fundar a milícia Raia Mutomboki em nossa defesa", explica.

Defendendo os congoleses das FDLR

Reunidos em torno do padre, os habitantes da aldeia assentam com a cabeça. Salta à vista que só se encontra entre eles uma mão cheia de homens jovens. A grande parte dos mais jovens, que formam o núcleo duro da milícia, vive na floresta. Os seus líderes dizem têm o cognome "os juristas". Trata-se de dois homens que estudaram Direito na capital da província Bukavu em Kivu Sul. Mas o dinheiro não chegou para os exames. Os jovens regressaram à sua aldeia natal de Nduma para lutar à sua maneira pela justiça.

Na manhã seguinte à chegada da DW África à região, um grupo de jovens homens emerge da floresta e coloca-se em posição, como soldados que protegem o seu comandante.

Chega um homem com um saco às costas que coloca no solo com muito cuidado. Ao abri-lo escapa-se do saco um forte fedor. O homem tira crânios do saco. O vice-comandante Kikunyi curva-se diante dos restos mortais: "Quero mostrar estes crânios a todo o mundo", diz. "Pertencem aos nossos parentes, amigos e vizinhos massacrados pelas FDLR. Guardamo-los para não nos esquecermos de nos vingarmos. Nós gritámos muito por socorro mas ninguém nos ouviu. O governo disse-nos, defendam-se vocês próprios. É o que estamos a fazer, para nossa própria segurança", explica Kikunyi.

Quando o comandante Kikunyi se levanta e parte rumo ao quartel general na selva, as mulheres da aldeia entoam um cântico de louvor aos líderes da Raia. "Deus proteja Eyaduma e Kikuny, porque eles protegem-nos de violações e pilhagens", cantam.

Autoras: Simone Schlindwein/Cristina Krippahl
Edição: Renate Krieger/António Rocha

24.09 milicias civis no Congo - MP3-Mono

Os habitantes de Nduma rezam para os crânios de seus entes assassinados
Os habitantes de Nduma rezam para os crânios de seus entes assassinadosFoto: Simone Schlindwein
O padre Maurice Sambamba diz que "somos a Raia Mutomboki, o povo furioso que se vinga"
O padre Maurice Sambamba diz que "somos a Raia Mutomboki, o povo furioso que se vinga"Foto: Simone Schlindwein
Os habitantes de Nduma, como esta mulher, vítima de estupro, criaram uma milícia civil para se defender dos ataques das FDLR
Os habitantes de Nduma, como esta mulher, vítima de estupro, criaram uma milícia civil para se defender dos ataques das FDLRFoto: Simone Schlindwein