RCA: Urnas abertas apesar da violência
27 de dezembro de 2020Os eleitores da República Centro-Africana (RCA) dirigem-se às urnas este domingo (27.12), num ambiente de instabilidade e violência no país.
Agências de notícias relatam a presença das forças de manutenção da paz da ONU próximo às assembleias de voto na capital Bangui para reforçar a segurança.
O Presidente em exercício Faustin Archange Touadéra, concorre a um segundo mandato. Um novo parlamento também será eleito.
O principal concorrente de Touadéra é o antigo chefe de Governo, Anicet-Georges Dologuele, que é apoiado pelo antigo Presidente François Bozizé.
Ambiente hostil
As eleições realizam-se em meio a uma crescente tensão desde a semana passada, marcada pelo estabelecimento de uma coligação entre líderes dos três principais grupos armados, que ocupam grande parte do território da RCA e conduzem uma ofensiva em diferentes partes do país.
Milícias hostis à Touadéra intensificaram os ataques desde que o Tribunal Constitucional rejeitou vários candidatos, incluindo Bozizé.
Na sexta-feira (25.12), três militares de manutenção da paz das Nações Unidas foram mortos em ataques às forças de segurança interna e à missão da ONU no país, MINUSCA.
A agência da ONU para os direitos humanos advertiu recentemente que a violência armada representa uma séria ameaça à segurança dos civis e ao seu direito de voto.
Touadéra tem lutado para controlar grandes áreas do país desde que foi eleito pela primeira vez em 2016, três anos após a deposição de Bozizé. O Presidente acusa-o de promover a violência que mais recentemente assolou o país.
"É ele que está a organizar isto", disse Touadéra à DW. "Foram eles [a oposição] que provocaram esta violência". Eles mobilizaram os grupos armados. Trouxeram de volta a violência e agora querem irromper para [a capital] Bangui para desestabilizar".
Bozizé, por sua vez, apelou aos eleitores para não votarem e apoiarem a coligação rebelde.
"Meus compatriotas, peço-vos para não irem votar. Fiquem em casa. Deixem Touadéra ir sozinho às urnas", disse numa mensagem de áudio divulgada na internet e autenticada pelo seu partido à agência de notícias AFP.
Dezesseis candidatos, incluindo três mulheres, concorrem à Presidência da RCA. Mais de 1.500 candidatos concorrem aos 140 assentos da Assembleia Nacional. Estima-se que mais de 1,8 milhões de eleitores estão recenseados, mas mais de 598.000 pessoas refugiaram-se nos países vizinhos e não poderão para votar, de acordo com a ONU.
A eleição irá para uma segunda volta se nenhum candidato receber mais de 50% dos votos.
Anos sangrentos
Milhares de pessoas morreram em sucessivas ondas de violência desde 2013. Mais de um milhão de pessoas, num país com 4,9 milhões de habitantes, foram forçadas a fugir das suas casas.
Uma intervenção militar francesa em conjunto com a MINUSCA, a missão de paz da ONU, estabilizou temporariamente o país desde que foi assinado um acordo de paz em 2019, mas a violência continua a aumentar.
Também de acordo com a ONU, os rebeldes estão a ser apoiados por Bozizé e os recentes ataques às forças de manutenção da paz tiveram como objetivo suspender o processo eleitoral.
"Hoje, são desordeiros como Bozizé que querem sabotar o processo eleitoral, porque não lhe é permitido ser candidato. Eles fomentam o medo na população", disse Mankeur Ndiaye, o representante especial da ONU para a RCA, à DW.
"Temos de lutar por uma eleição credível", acrescentou.
O recente aumento dos combates levou a Rússia e o vizinho Ruanda a destacar tropas para o país.
Quando perguntado pela DW sobre a presença de militares russos na RCA, o Presidente Touadéra respondeu: "Nós somos amigos".
"As nossas relações com este país [Rússia] datam dos anos 60", disse ele. "A República Centro-Africana é um país frágil e em situação de pós-conflito. Portanto, aqui queremos que a nossa cooperação com os nossos amigos seja complementar", acrescentou.