RDC: Capacetes azuis detidos após tiroteio
1 de agosto de 2022O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse estar "indignado" depois de duas pessoas terem sido mortas e várias outras feridas na sequência de tiros disparados pelas forças de manutenção da paz da organização contra um posto fronteiriço com o Uganda, na República Democrática do Congo (RDC), no domingo (31.07).
A força da ONU, a MONUSCO, admitiu que alguns dos seus soldados de manutenção da paz abriram fogo "por razões inexplicáveis", acrescentando que já foram efetuadas detenções.
Guterres ficou "entristecido e consternado" ao tomar conhecimento do tiroteio, disse uma declaração da ONU.
"O secretário-geral sublinha nos termos mais veementes a necessidade de estabelecer a responsabilidade por estes acontecimentos. E congratula-se com a decisão do seu representante especial na República Democrática do Congo de deter o pessoal da MONUSCO envolvido no incidente e de abrir imediatamente uma investigação", acrescentou.
Violência registada em vídeo
O vídeo do incidente, partilhado nos meios de comunicação social, mostrou homens, pelo menos um em uniforme policial e outro em uniforme do exército, indo em direção ao comboio da ONU, no posto fronteiriço em Kasindi.
A cidade encontra-se no território Beni da República Democrática do Congo Oriental, na fronteira com o Uganda.
Depois de uma troca verbal, as forças de manutenção da paz atiraram antes de abrirem a barreira e atravessarem de carro enquanto as pessoas se dispersavam ou se escondiam.
"Durante este incidente, soldados da brigada de intervenção da força MONUSCO que regressavam de licença abriram fogo no posto fronteiriço por razões inexplicáveis e forçaram a sua passagem", disse a missão das Nações Unidas em Kasindi, no domingo.
Governo congolês quer "sanções severas"
A República Democrática do Congo "condena e lamenta vivamente este infeliz incidente em que dois compatriotas morreram e outros 15 ficaram feridos de acordo com uma lista provisória", disse o porta-voz do Governo Patrick Muyaya num comunicado.
O Governo disse que lançou uma investigação com a MONUSCO para estabelecer quem foi o responsável, por que razão o tiroteio teve lugar e que garantiria a aplicação de "sanções severas".
O enviado da ONU na República Democrática do Congo, Bintou Keita, disse estar "profundamente chocado e consternado com este grave incidente", de acordo com a declaração da missão.
"Face a este comportamento indizível e irresponsável, os autores do tiroteio foram identificados e detidos na pendência das conclusões da investigação que já começou em colaboração com as autoridades congolesas", disse a MONUSCO.
A missão da ONU afirmou que os países de origem das tropas foram contactados para que se pudesse iniciar rapidamente uma ação judicial, com o envolvimento de testemunhas e sobreviventes, o que poderia conduzir a sanções exemplares.
Presente na RDC desde 1999, a Monuc (Missão da ONU na RDCongo) que se tornou MONUSCO (Missão da ONU para a Estabilização na RDC) com a evolução do seu mandato em 2010, é considerada uma das maiores e mais caras missões da ONU, com um orçamento anual de mil milhões de dólares (cerca de 980 milhões de euros, ao câmbio atual).
A missão da ONU conta atualmente com mais de 14.000 capacetes azuis e recentemente tem enfrentando a rejeição da população do leste congolês. Há dias a região tem sido palco de protestos violentos, que resultaram na morte de dezenas de pessoas e vários feridos.