Rebeldes do Sudão do Sul rejeitam proposta do Presidente
16 de fevereiro de 2020Os rebeldes do Sudão do Sul rejeitaram este domingo (16.02) a proposta do Presidente, Salva Kiir, para o país voltar a ter 10 estados, que era uma das exigências para abrir caminho para a paz.
A rejeição pelo líder rebelde e ex-vice-Presidente Riek Machar pode acabar com a esperança do país superar o impasse político e acabar com a guerra civil que matou mais de 380.000 pessoas em seis anos e que já causou uma crise humanitária na região.
Kiir e Machar estão sob crescente pressão internacional para resolver as suas diferenças, com vista à formação de um governo de unidade nacional até 22 de fevereiro, prazo final firmado no acordo de paz assinado em 2018.
O Presidente Kiir anunciou no sábado (15.02) que o Sudão do Sul seria dividido em 10 estados e mais três "áreas administrativas" (Ruweng, Pibor e Abyei).
Entretanto, Machar, que vive no exílio, disse este domingo que se opõe à criação das três zonas administrativas. "Não podemos falar de um retorno a 10 estados, tal não pode ser aceite", disse o líder rebelde em comunicado. "Portanto, pedimos ao Presidente Kiir que reconsidere a ideia de criar zonas administrativas", acrescentou. Machar acredita que, nessas três áreas, o chefe de Estado abriu a "caixa de Pandora" porque se arrisca a criar problemas adicionais.
Uma disputa por poder e petróleo
Quando conquistou a independência do Sudão em 2011, o Sudão do Sul tinha 10 estados, de acordo com a sua Constituição. O Presidente Kiir aumentou esse número para 28 em 2015 e depois para 32, uma medida vista como uma forma de aumentar o número de aliados em cargos de responsabilidade.
A oposição recebeu no sábado o anúncio surpresa de Kiir, mas criticou a decisão de fazer de Ruweng, uma região essencial para a produção de petróleo, uma "área administrativa". No final da noite de sábado, o Presidente Kiir dispensou os governadores dos 32 estados federais das suas funções.
O chefe de Estado disse que a questão dos estados seria definitivamente resolvida assim que o governo de unidade nacional fosse formado.
O número de estados regionais e a definição das suas fronteiras foram os principais obstáculos nas negociações para a formação do governo. Entre as três "áreas administrativas", a mais disputada é a região petrolífera de Ruweng, no norte do país. É reivindicada tanto pelos 'dinka', a etnia do Presidente Kiir, como pelos 'nuer', etnia de Machar. O petróleo fornece ao Sudão do Sul a maior parte de suas receitas.