Relatório internacional denuncia violência policial contra "zungueiras" em Angola
30 de setembro de 2013A organização internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) entrevistou 73 vendedoras de rua em Luanda - as denominadas "zungueiras" - e chegou à conclusão que a situação é grave: todas as senhoras entrevistadas já tinham sofrido ou presenciado situações de violência por parte das autoridades nacionais.
No relatório descreve-se, de forma detalhada, como agentes da polícia e funcionários das administrações municipais ameaçam e agridem as zungueiras, expulsando-as dos locais de venda. Muitos dos agressores estão fardados, outros usam roupa civil e não têm documentação, nem identificação oficial.
O jornalista angolano Coque Mukuta registou inúmeras situações de violência e chegou a denunciá-las. Mas quem concretamente são os agressores? E atuam por ordem de quem? "Existem indivíduos à civil que as administrações do Governo recrutam", explicou à DW África Coque Mukuta .
Descreve os referidos indivíduos como "ladrões" e afirma que o executivo angolano "trabalha com estas pessoas". Relata ainda que "outros são polícias, alguns são fiscais do Governo e esses, com muita brutalidade, espancam e perseguem as senhoras".
Número de ataques cresce
Em Outubro de 2012, o governador de Luanda, Bento Bento, prometeu acabar com a zunga, isto é, com a venda de rua na capital do país durante o seu mandato. O governador prometeu ainda construir mercados com melhores condições - inclusive de higiene - para clientes e vendedores.
Desde então, a pressão sobre as mulheres tem vindo a aumentar. Os ataques têm sido frequentes e chegaram mesmo a registar-se mortes, sobretudo na sequência de atropelamentos de mulheres que tentavam fugir "à queima roupa" dos seus perseguidores.
Coque Mukuta responsabiliza as autoridades, nomeadamente o governador de Luanda. "Quando disse que poderia eliminar a zunga, o governador pensou que só torturando as pessoas acabaria com isso", diz.
O jornalista lamenta que o governador não tenha ponderado outras "grandes metodologias que poderia ter usado", sublinha. "Pensou que só à força poderia resolver isto, mas não é verdade", afirma Mukuta.
Muitas das zungueiras vivem em situação de extrema pobreza, refere-se no relatório da HRW. Trata-se de mulheres - muitas delas mães de bébes - que não encontram outro meio de subsistência. A maioria não tem acesso aos mais básicos serviços públicos. Não benefeciam de maneira nenhuma dos recursos naturais nem do crescimento económico que Angola tem vindo a registar, pode ler-se no mesmo relatório.