RENAMO mantém boicote às eleições em Moçambique
20 de março de 2013
Quando faltam precisamente oito meses para as eleições autárquicas, no dia 20 de novembro, a RENAMO reiterou esta quarta-feira (20.03.2013) o seu boicote ao processo eleitoral.
O partido não designou os seus representantes na comissão 'ad hoc' para a seleção dos membros da sociedade civil na Comissão Nacional de Eleições e abandonou a sala durante o debate e votação para a criação daquele órgão, "por questões de coerência do discurso do meu partido", disse Angelina Enoque, chefe da bancada parlamentar da RENAMO.
A comissão passa a ser constituída apenas pelas bancadas da FRELIMO e do MDM.
Boicote para durar?
No quadro do seu boicote, a RENAMO não participou em dezembro passado na votação parlamentar da legislação para os próximos pleitos eleitorais, alegando que o documento não é consensual.
Esta semana, a formação política não esteve presente num encontro promovido pela Comissão Nacional de Eleições em que foi apresentado o calendário eleitoral.
Estes posicionamentos vêm reforçar a ideia de que contrariamente às outras vezes em que a RENAMO ameaçou não participar nas eleições e recuou, o mesmo poderá não acontecer desta vez.
"A RENAMO não vai permitir que as eleições sejam realizadas sem que o processo de arbitragem e controlo dos processos eleitorais seja garantido com transparência, liberdade e justiça. Mesmo que isso custe sacrifícios, como a RENAMO fez nos últimos 16 anos", disse o secretário-geral do partido, Manuel Bissopo, esta semana.
Eleições vão para a frente, com ou sem RENAMO
Para o partido no poder, a FRELIMO, as eleições deverão ser realizadas nas datas previstas. Sara Mamudo, deputada do partido, disse que a RENAMO se está a autoexcluir do processo eleitoral. Mas "a certeza é que, com ou sem a RENAMO, este processo vai avançar", afirmou.
Em 1998, apesar do boicote às eleições autárquicas por parte dos partidos da oposição incluindo a RENAMO, o escrutínio teve lugar e a FRELIMO foi declarada vencedora.
O ex-Presidente da República, Joaquim Chissano, recorda esse momento e espera que a lei seja cumprida e que a RENAMO não boicote as eleições. Segundo Chissano, se a RENAMO acredita que "pode fazer a diferença em Moçambique, então que concorra às eleições para estar sempre presente nos órgãos e direção do país."
RENAMO está sozinha
Se em 1998 as eleições foram boicotadas por toda a oposição, desta vez a RENAMO parece estar sozinha. Os vários partidos da oposição, à semelhança da FRELIMO, estão já envolvidos nos preparativos para as eleições autárquicas de novembro próximo.
Mas o facto de a RENAMO ter anunciado que pretende inviabilizar a realização das eleições constitui motivo para alguma inquietação.
O discurso político subiu, por outro lado, de tom nos últimos meses, tendo o líder da RENAMO, Afonso Dlakhama, regressado à Gorongosa, antiga base central da organização durante a guerra civil, onde se encontra desde outubro último.
Autor: Leonel Matias (Maputo)
Edição: Guilherme Correia da Silva / Helena Ferro de Gouveia