RENAMO assume DDR como caminho para reconciliação
16 de março de 2021Em entrevista à DW África, André Magibire, secretário-geral da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, garante que a sua formação está satisfeita com o andamento do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos seus guerrilheiros. E espera que este seja um passo para a pacificação e estabilidade de Moçambique.
O secretário-geral garante ainda que, no "espírito de paz", os homens recrutados pela Junta Militar, grupo dissidente da RENAMO, também serão desmobilizados.
DW África: Como analisa o processo de DDR?
André Magibire (AM): O processo está a decorrer conforme o planificado, os combatentes estão a ser desmobilizados, cada um vai para a sua zona de origem. São recebidos e integrados na sociedade.
DW África: Que avaliação faz da recepção dessas pessoas nas comunidades?
AM: Por enquanto é positiva, as pessoas estão a ser tratadas como deve ser, ainda não temos queixas da parte dos combatentes, o que significa que está a correr tudo bem.
DW África: Quantos homens já foram reintegrados?
AM: Sei que até à semana passada tinham sido desmobilizados 1531. E logicamente esse número deve ter sido ultrapassado, tendo em conta que de lá para cá mais combatentes estão a ser desmobilizados no centro de acantonamento de Chiwala, em Barué.
DW África: E neste grupo também se contam os que estiveram muito recentemente na Junta Militar. Então, o número global previsto pela RENAMO poderá aumentar?
AM: Logicamente que vai aumentar, nós apresentamos o número de todos os combatentes, inclusive na altura aqueles que tinham desertado para se juntar à Junta Militar. Mas a própria Junta foi fazendo os seus recrutamentos e nós, no espírito de paz, queremos que todos esses sejam desmobilizados.
DW África: Vimos um Mariano Nhongo a dizer que a forma com os seus homens estão a ser reintegrados não é do seu agrado. O que a RENAMO tem a dizer sobre isso?
AZ: O que acontece é que houve negociações que começaram com o presidente Afonso Dhlakama e depois continuou o presidente Ossufo Momade e na mesa de diálogo nós tivemos aqueles processos e estão satisfeitos com o que está a ser feito nete momento. Comparando com o ato de desmobilização de 1992, vê-se que no ato de desmobilização cada combatente recebia foice, enxada, pá, etc., enquanto que neste processo as pessoas têm um kit e até têm material de construção, recebem um subsído de um ano e depois disso vão tratar de uma pensão vitalícia, portanto, penso que melhoramos bastante.
DW África: A RENAMO apresentou uma lista de homens que pretende ver integrados na Polícia. Quais as expetativas e quantos homens são?
AM: Há um grupo de 36, vão ser treinados e vão fazer parte da guarda dos quadros do partido e das suas instituições. O próprio acordo também preconiza a integração de outros para o ramo das Forças de Defesa Segurança (FDS). São 300 e tal e queremos que sejam integrados na polícia. A lista já entrou e a nossa expetativa é que, no âmbito do cumprimento dos acordos, esses, de facto, fiquem integrados na Polícia.
DW África: O que se pode esperar deste processo para a estabilização do país?
AM: O DDR está dentro do pacote do cumprimento dos acordos e visam garantir em definitivo no nosso país a reconciliação. O que esperamos, é que, de facto, que a paz que Moçambique vive seja duradoira. O apelo que fazemos é que a paz não é feita por uma, duas ou três pessoas, mas sim por todos nós. Todos os moçambicanos têm a responsabilidade acarinhar e fazer com que a paz, de facto, permaneça, com cada um a fazer o seu melhor.