"Ossufo Momade não foi destituído, nem vai ser"
24 de julho de 2019A autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) anunciou na terça-feira (23.07) uma suposta destituição do presidente do partido, Ossufo Momade. Ameaçou ainda com medidas militares se o Governo continuar com as negociações sobre o Desarmamento, Desmilitarização e Reintegração (DDR) dos homens da maior força da oposição nos moldes atuais.
"Queremos apelar ao Governo, na pessoa do Presidente moçambicano [Filipe Nyusi], para interromper o diálogo com Ossufo Momade". Se não houver mudanças, "as consequências podem cair para o povo moçambicano, povo pobre e que não tem nada a ver com política. Apelamos a estas pessoas para nos respeitaram porque a RENAMO somos nós", anunciou a Junta Militar.
O líder do grupo, o general Mariano Nhongo, acrescentou na quarta-feira, em entrevista à agência de notícias Lusa, que "se o Governo não souber resolver este problema, há guerra aqui em Moçambique".
Em entrevista à DW África, o porta-voz da RENAMO, José Manteigas nega a destituição do líder do partido e classifica as ações da autoproclamada Junta Militar como "encenação".
DW África: A autoproclamada Junta Militar da RENAMO veio mais uma vez veio a público distanciar-se da liderança de Ossufo Momade e anunciou que este tinha sido destituído da presidência. Confirma?
José Manteigas (JM): O presidente Ossufo Momade não foi destituído, nem vai ser destituído. Segundo os estatutos, o presidente da RENAMO é eleito pelo congresso e o general Ossufo Momade foi eleito no VI congresso do partido, realizado na serra da Gorongosa em janeiro de 2019, com mais de 65% de votos. Só há destituição do presidente pelo congresso. Quem se distancia destes desertores das fileiras do partido é a própria RENAMO.
DW África: O que está realmente a acontecer com estes homens ou no seio da RENAMO?
JM: É uma encenação de pessoas que estão contra a paz, contra a estabilidade e contra a RENAMO, como sempre foi.
DW África: Diz que são "desertores", mas vimos os homens com uma farda idêntica à dos homens da RENAMO. Tem alguma explicação para isso?
JM: Eles são desertores… Certamente alguém os financiou e esse financiador comprou aquele fardamento. Se as pessoas estão contra a RENAMO, vão fazer de tudo para desacreditar a RENAMO.
DW África: O grupo apelou ao Presidente da República, Filipe Nyusi, para que não continue a dialogar com o senhor Ossufo Momade no processo de Desarmamento, Desmilitarização e Reintegração (DDR) em curso. Que impacto pode ter isso?
JM: Não tem nenhum impacto, porque a RENAMO está a negociar com o Governo, e ela é representada pelo presidente Ossufo Momade. Portanto, é uma encenação. Lembre-se que, anteriormente, tinham dado um prazo até ao dia 15 de julho [para a saída de Momade] e não aconteceu nada. Mas nós estamos a avançar, porque queremos paz e queremos ir para as eleições para ganhar.
DW África: Ameaçaram atacar o sr. Ossufo Momade se ele não abandonar a serra da Gorongosa, onde ele está a residir. Isso não vos preocupa?
JM: Reconhecemos que é uma ameaça contra a integridade física do presidente. Isso é um crime público, e o Estado moçambicano também deve ou deverá agir para que estanque este desejo de querer fazer mal ao presidente da RENAMO. Mas, por outro lado, devo confessar que a RENAMO e o seu presidente estão pouco preocupados com este suposto ataque.
DW África: O partido está preparado para fazer face a estas ameaças?
JM: Se eles o quiserem, podem mas isso não abala o partido, não abala as forças da RENAMO, porque estão preparadas para tomar medidas convenientes quando assim o acharem.
DW África: A RENAMO já fez queixa destes homens, sendo que não é primeira vez que ameaçam a imagem do partido?
JM: Sendo um crime público, o impulso é do Ministério Público (MP) - portanto, não carece de participação ou queixa da pessoa visada. O MP tem o dever de dar o impulso inicial.
DW África: De que forma a RENAMO está a lidar com as diferenças no seio do partido?
JM: Nós respeitamos a diferença. O que estamos a salvaguardar é o interesse da maioria que elegeu Ossufo Momade como seu presidente.
DW África: A menos de três meses das eleições gerais, a imagem da RENAMO não está comprometida com estes acontecimentos?
JM: Os moçambicanos não estarão distraídos. E queremos exortar mais uma vez para que mantenham a serenidade e a tranquilidade, porque o presidente Ossufo Momade está a lutar para que este país tenha uma paz efetiva.