Representação da Guiné-Bissau na ONU é ainda uma incógnita
24 de setembro de 2012
A resposta será conhecida no arranque da Assembleia Geral da ONU que decorre até dia 1 de outubro. Até agora, tem-se vivido um braço de ferro. De um lado, Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro deposto do golpe de Estado, em abril, tem afirmado que representará o seu país. Do outro, o governo de transição considera que é a única autoridade representativa do país.
Recentemente, em declarações à agência Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros de transição, Faustino Imbali garantiu que “a Guiné-Bissau será representada por este governo que, há quatro meses, tem tido o controlo do país, que paga salários que vocês recebem, que as nossas representação no exterior recebem, que mantém a acalmia a que todos os guineenses assistem neste momento, que negoceia, que representa a Guiné-Bissau em todas as conferências e cimeiras internacionais”.
Carlos Gomes Júnior deverá já estar acreditado
Mas, recorde-se, o governo de transição é apenas reconhecido pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), sendo contestado por uma grande parte da comunidade internacional, pelo que Paulo Gorjão, do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), considera que Carlos Gomes Júnior continua a ser “o representante legítimo e legal” da Guiné-Bissau.
O analista político avança ainda que tem informações de que “houve alguma persuasão, negociação, pressão no sentido de a embaixada da Guiné-Bissau em Nova Iorque acreditar Carlos Gomes Júnior como representante. Sei que, de facto, até há poucos dias, foi a Carlos Gomes Júnior que foram atribuídas as credenciais”.
Apesar disso, em relação às autoridades de transição, o analista do IPRIS reconhece: “não sei o que é que se passou do lado do governo deposto, portanto, se eles também conseguiram essas credenciais”.
Vontade de avançar nas negociações
Independentemente da representação da Guiné-Bissau em Nova Iorque, CEDEAO e CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), com posições até agora divergentes, estarão em terreno neutro para discutir o futuro do país.
De acordo com Paulo Gorjão, “há da parte das duas organizações algo novo que é a vontade de encontrar um ponto comum”. Segundo o analista, por um lado, “a CEDEAO sabe que este governo de transição, se a situação não se alterar, provavelmente terá um mau desfecho, é muito provável que possa haver outro golpe de Estado”, pelo que, acredita o plano de saída da crise desta organização (que contempla a realização de eleições em 2013) “está morto ou moribundo, daí a aparente flexibilidade que se tem visto nos últimos tempos da parte da CEDEAO”.
Por outro lado, “a CPLP sabe que a sua posição rígida não é viável”, diz Paulo Gorjão. Pelo que “há espaço para que as duas [organizações] recuem e que encontrem uma solução que seja satisfatória do ponto de vista das duas e para o bem dos próprios guineenses”, acrescenta o analista do IPRIS. Essa plataforma comum de entendimento está para breve, defende ainda Gorjão.
Durante esta semana, grande parte dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da CEDEAO e da CPLP vai estar em Nova Iorque para participar na Assembleia-geral, pelo que haverá a possibilidade de se realizarem numerosos contactos de alto nível.
PAIGC continua unido a Gomes Júnior
A nível interno, na Guiné-Bissau, surge agora um novo elemento. Domingos Simões Pereira, ex-secretário-executivo da CPLP, admite candidatar-se à liderança do maior partido, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), que estava no poder até ao golpe de Estado.
Paulo Gorjão afasta a palavra crise no seio do PAIGC, liderado até agora por Carlos Gomes Júnior. O analista considera que Simões Pereira e Gomes Júnior atuam de forma concertada e não estão em rota de colisão.
Segundo o analista “Domingos Simões Pereira tem plena consciência de que não tem hipóteses de derrotar Carlos Gomes Júnior. Estou convencido de que falaram e de que há um entendimento entre os dois”. Por isso, remata Paulo Gorjão, “o partido continua muito unido à volta de Carlos Gomes Júnior”.
Autora: Glória Sousa
Edição: António Rocha