Ruanda à espera dos resultados das legislativas
4 de setembro de 2018Mais de sete milhões de eleitores foram chamados a eleger 53 dos 80 deputados do Parlamento. Os restantes 27 lugares estão reservados a mulheres, portadores de deficiência e jovens - que serão eleitos por conselhos especiais e comités nacionais.
Os eleitores na diáspora foram os primeiros a votar, no domingo (02.09), em diversas embaixadas por todo o mundo. Na segunda-feira (03.09), mais de 2 mil e 500 assembleias de voto estiveram abertas em todo o país.
"Até agora, a afluência às urnas está a revelar-se excepcional", diz o correspondente da DW em Kigali, Etienne Gatanazi. "Desde 2003, quando começaram [as eleições legislativas], registámos mais de 7 milhões de eleitores, algo que nunca aconteceu antes", sublinha.
Apesar ter prometido resultados provisórios após o encerramento das urnas, a Comissão Eleitoral do Ruanda ainda não avançou quaisquer dados.
A Frente Patriótica do Ruanda (FPR), no poder desde 1994, após travar o genocídio da população tutsi, domina o Parlamento em Kigali. A FPR e os seus aliados detêm atualmente 76% dos assentos parlamentares.
Não se esperam grandes mudanças
A oposição considera que o Ruanda não pode ter uma legislatura ao serviço do partido no poder. Franck Habineza, presidente do Partido Verde Democrático do Ruanda, afirma que não há debates reais no país e critica as constantes decisões unânimes do Parlamento. Habineza espera conquistar 10 assentos parlamentares nestas eleições.
Mas os observadores não esperam grandes mudanças. "Estas eleições serão muito semelhantes às presidenciais e legislativas anteriores, no sentido em que serão completamente dominadas pela Frente Patriótica", diz Phil Clark.
Para o investigador no Instituto de Estudos Orientais e Africanos, em Londres, um ponto-chave é o Partido Social Democrático, um dos maiores partidos da oposição, que deixou praticamente de fazer campanha. "Nas últimas presidenciais nem apresentou um candidato, disse basicamente que ia apoiar Kagame", lembra.
Jovens na corrida
Ainda assim, a eleição contou com 512 candidatos e, pela primeira vez, permitiu a entrada de independentes na corrida. Fica também marcada pela juventude: a maioria dos candidatos tem menos de 25 anos, tal como 60% da população ruandesa.
O analista político Pontian Kabera considera que a participação política dos jovens é positiva. Mas tem dúvidas quanto às hipóteses de serem eleitos: "Isto mostra que o espaço político no país mudou e que há lugar para a juventude participar nos processos de decisão. No entanto, muitos dos jovens que aparecem para ocupar posições políticas vêm de partidos pequenos ou pouco conhecidos, por isso as hipóteses de vencerem são questionáveis."
As eleições legislativas ocorrem numa altura em que o Governo do Ruanda está a ser alvo de críticas e pressão nos meios de comunicação e nas redes sociais devido à prisão de Diane Rwigara, candidata da oposição à Presidência, em 2017. Está detida desde setembro do ano passado, acusada de traição, incitamento à insurreição e falsificação de documentos.