Rússia aproxima-se da China para fazer frente ao Ocidente
15 de setembro de 2022"As tentativas de criar um mundo unipolar tomaram recentemente uma forma absolutamente desprezível e são totalmente inaceitáveis", disse esta quinta-feira (15.09) Vladimir Putin, em Samarcanda, Uzbequistão, após uma conversa com o líder chinês Xi Jinping.
"Apreciamos muito a posição equilibrada dos nossos amigos chineses na crise ucraniana", explicou Putin, dizendo que entende as preocupações de Pequim sobre a invasão e mostrando-se disponível para explicar a sua posição.
Pequim não apoiou nem criticou a invasão russa, ao mesmo tempo que tem expressado repetidamente o apoio a Moscovo perante as sanções ocidentais.
Putin apoia Pequim sobre Taiwan
Durante a conversa com Xi Jinping, à margem de uma cimeira da Organização para a Cooperação de Xangai, Putin renovou também o apoio de Moscovo a Pequim, no que diz respeito a Taiwan, após as visitas recentes de autoridades norte-americanas causarem desconforto aos governantes na China.
"Nós aderimos ao princípio de uma só China. Condenamos a provocação dos EUA e dos satélites no Estreito de Taiwan", asseverou Putin, depois de um comité do Senado dos EUA anunciar um primeiro passo no sentido de Washington fornecer diretamente apoio financeiro para ajuda militar a Taiwan.
"Condenamos a provocação dos Estados Unidos", sublinhou Putin, referindo que Moscovo respeita a tese da unidade da China, apoiando os esforços para que Taiwan seja parte integrante do território chinês. "Estou convencido de que nossa reunião de hoje dará um impulso adicional ao fortalecimento da parceria estratégica entre a Rússia e a China", acrescentou o líder russo.
O presidente Vladimir Putin e o líder chinês Xi Jinping encontraram-se na sua primeira conversa cara a cara desde o início do conflito na Ucrânia, a 24 de fevereiro, saudando os seus laços estratégicos num claro desafio ao Ocidente.
Sentados um frente ao outro em duas longas mesas redondas e ladeados por assessores, os dois líderes encontraram-se à margem de uma cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) no Uzbequistão.
A reunião foi parte da primeira viagem de Xi ao estrangeiro desde os primeiros dias da pandemia.
"A China está disposta a envidar esforços com a Rússia, assumindo o papel de grandes potências e servindo como guia, injetando estabilidade e energia positiva num mundo abalado por turbulências sociais", disse Xi a Putin durante as negociações, segundo a agência de notícias France-Presse.
A "alternativa" ao Ocidente
O Kremlin elogiou a cimeira da SCO em Samarcanda, uma cidade que pertence à antiga Rota da Seda, defendendo que há uma "alternativa" para as instituições internacionais dominadas pelo Ocidente.
A SCO - composta pela China, Índia, Paquistão, Rússia e ex-nações soviéticas da Ásia Central, como o Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão - foi criada em 2001. É uma organização política, económica e de segurança, que pretende rivalizar diretamente com instituições ocidentais.
Os líderes desses países estiveram presentes na reunião, assim como o Presidente iraniano Ebrahim Raisi e o chefe de Estado turco Recep Tayyip Erdogan.
Para Putin, a cimeira acontece num momento importante, já que as Forças Armadas russas enfrentam grandes reveses no campo de batalha na Ucrânia.
Já para Xi, esta é uma oportunidade essencial para reforçar as suas credenciais como estadista global antes do congresso crucial do Partido Comunista, em outubro deste ano.
Anteriormente aliados durante a Guerra Fria, China e Rússia aproximaram-se muito nos últimos anos, atuando como um contrapeso face ao domínio global dos Estados Unidos.