Rússia aumenta influência em África através do grupo Wagner
6 de março de 2023Desde a sua primeira presença documentada no continente, no final de 2017, a empresa russa de mercenários Wagner tem-se expandido agressivamente, aponta um relatório publicado em fevereiro de 2023 à margem da Conferência de Segurança de Munique (MSC) com o apoio da Fundação Hanns-Seidel, ligada ao partido conservador da Baviera CSU.
Há milhares de mercenários russos distribuídos por vários países africanos. Na República Centro-Africana, por exemplo, haverá 1.890 "instrutores russos" que apoiam as tropas governamentais, segundo o embaixador russo. Na Líbia, acredita-se que haja perto de 1.200 mercenários a lutar do lado do líder militar Khalifa Hifter.
"Mas o grupo Wagner não atua sozinho. Outros grupos associados à Wagner estão presentes em mais de uma dezena de países africanos, cumprindo diferentes missões militares, económicas ou políticas", diz Julian Rademeyer, um dos autores do relatório e pesquisador na rede da sociedade civil "Global Initiative against Transnational Organized Crime" (GI-TOC).
Segundo Rademeyer, a Wagner opera a vários níveis. "Opera politicamente, envolvendo-se com regimes autoritários. Também opera economicamente, envolvendo-se em áreas como a mineração, extração e na indústria madeireira, para obter riqueza. Essas atividades constituem uma influência maligna para o continente. Pode dizer-se que os homens da Wagner fortalecem ditaduras em África."
Em Moçambique, a Wagner não teve sucesso
"O único país onde a Wagner parece ter sido mal sucedida foi Moçambique", refere Rademeyer, recordando que os mercenários russos foram inicialmente chamados para combater os terroristas na província nortenha de Cabo Delgado. Terão chegado com muitos equipamentos militares avançados, incluindo helicópteros, 'drones 'e veículos de combate de infantaria, mas sabiam pouco sobre as condições reais no campo.
"Por isso, a Wagner perdeu vários combatentes nesse conflito. Também não conseguiu obter acesso às riquezas minerais no norte do país", sublinha o especialista alemão.
A Wagner conseguiu estabelecer-se sobretudo na Líbia, na República Centro-Africana e no Mali. Segundo Rademeyer, na lista de clientes da empresa estarão também os Camarões e o Sudão. E "há indicações de envolvimento da Wagner no Burkina Faso e na República Democrática do Congo", acrescenta o especialista.
Quem controla o grupo Wagner?
A Wagner é controlada por um homem próximo de Vladimir Putin, Yevgeny Prigozhin, que mantém relações estreitas com o Estado e o Governo da Rússia.
Segundo o ex-combatente do grupo Wagner Marat Gabidullin, autor de um livro sobre a empresa lançado recentemente, chamar as tropas de Prigozhin de "exército privado", não é correto.
"Esta organização nunca foi privada, no sentido literal do termo. O termo 'companhia militar privada' é produto da imaginação dos jornalistas. Pois os negócios são feitos exclusivamente com o Estado russo. Não há investimento privado. O grupo opera à custa do orçamento do Estado, à custa do contribuinte", explica Marat Gabidullin.
Em entrevista exclusiva à DW, Gabidullin afirma que o grupo Wagner "pode ser descrito como parte das Forças Armadas [russas], com poderes especiais, tornando-se uma estrutura virtual de poder paralelo, não imposta por lei, mas fortemente dependente do Ministério de Defesa."
Prigozhin e Putin: "Uma mão lava a outra"
As relações entre o grupo Wagner e o Governo da Rússia são aparentemente vantajosas para ambas as partes. O Governo russo delega certas tarefas "sujas" a uma empresa aparentemente privada, evitando assim ser responsabilizado por eventuais atos ilegais praticados pelos mercenários, adverte o veterano Marat Gabidullin.
O grupo foi acusado de usar todos os meios necessários, incluindo atividades criminosas, para alcançar os seus objetivos, desde a aplicação indiscriminada de violência contra civis em operações militares, campanhas de desinformação e manipulação eleitoral, até ao contrabando em larga escala de recursos naturais como ouro e diamantes.