Rússia usa na Ucrânia a estratégia que aplicou na Síria?
13 de outubro de 2022A Rússia está a repetir na Ucrânia a sua estratégia na Síria? Os bombardeamentos desta semana contra várias cidades ucranianas serão ainda um eco da intervenção russa para ajudar as forças do Presidente sírio Bashar al-Assad?
A questão foi levantada novamente esta semana pelo embaixador da Ucrânia nas Nações Unidas.
"A delegação russa deixa um rasto de sangue quando entra na Assembleia Geral, a sala enche-se de um cheiro a carne humana queimada. Foi isso que tolerámos durante demasiado tempo na Síria e é o que está a acontecer hoje na Ucrânia", disse Sergiy Kyslytsya.
Dezenas de ucranianos morreram ou ficaram feridos nos bombardeamentos desta semana. Kiev, Lviv, Dnipro, Zaporíjia, Sumi, Kharkiv e Jytomyr foram alguns dos alvos do Exército russo.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou os bombardeamentos com a destruição parcial da ponte que liga a Rússia à península ucraniana da Crimeia, anexada por Moscovo em 2014. Putin disse que o ataque à ponte, no sábado (08.10), foi um "ato terrorista" ordenado por Kiev.
Sergei Surovikin, o novo comandante na Ucrânia
No mesmo dia, o Kremlin anunciou a nomeação do novo comandante do Exército russo para a guerra na Ucrânia, Sergei Surovikin.
Surovikin comandou, antes, as forças russas na Síria, onde era conhecido como "General Armagedão". Foi acusado de violar os direitos humanos e de semear o medo entre a população com ataques a infraestruturas civis.
Foi o que aconteceu esta semana na Ucrânia. A Rússia bombardeou diversas instalações elétricas. Mais de 300 localidades ficaram às escuras em todo o país.
Mas a Ucrânia não é a Síria. Moscovo não controla o espaço aéreo na Ucrânia. E as tropas russas são poucas, além de estarem mal equipadas e desmoralizadas, lembra Sidharth Kaushal, investigador no Instituto Royal United Services, no Reino Unido.
"A Rússia não tem tropas suficientes para guarnecer a linha da frente, que é muito extensa, para se defenderem da contraofensiva ucraniana. E as unidades mobilizadas precisarão de muito tempo para se transformarem em formações coesas", afirmou Kaushal, citado pela agência de notícias Associated Press. "Então, não acho que a nomeação do novo general seja muito importante, sejam quais forem as suas capacidades."
O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) acredita que a nova onda de bombardeamentos na Ucrânia "não está relacionada" com a experiência anterior do general Surovikin na Síria, nem sinalizará "uma mudança na trajetória" do Exército russo.
Num dos seus relatórios diários sobre o conflito, o ISW sublinha que "o campo de batalha na Ucrânia é fundamentalmente diferente do campo de batalha na Síria e comparações diretas com o "manual" sírio de Surovikin ofuscam o facto de a Rússia enfrentar desafios muito diferentes na Ucrânia".
Um ato de desespero?
Kiev e os parceiros ocidentais asseveram que os bombardeamentos russos dos últimos dias na Ucrânia são um ato de desespero do Presidente Vladimir Putin.
"Putin está desesperado por causa das derrotas no campo de batalha e está a usar o terrorismo dos mísseis para tentar mudar o ritmo da guerra a seu favor", escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, na rede social Twitter.
O chefe da agência de informações e de cibersegurança britânica, Jeremy Fleming, referiu na segunda-feira (10.10) em entrevista à emissora BBC que a Rússia tem "falta de munições" e está cada vez mais isolada.
Será que, por isso, o conflito pode agravar-se ainda mais?
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, continua a alertar para as ameaças nucleares da Rússia, que considera serem "perigosas e irresponsáveis".
No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, diz que é o Ocidente que insiste na "retórica nuclear".
"Condenamos todos os dias que os líderes ocidentais, os Estados Unidos da América, os países europeus, pratiquem este tipo de retórica. É uma prática perniciosa e provocadora, em que a Rússia não vai, nem quer participar", sublinhou Peskov.