Sanções a diamantes russos: Boas ou más para África?
19 de junho de 2024No início do ano, o G7 (o grupo das nações mais ricas do mundo, composto pelos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão, e a União Europeia) proibiram a compra de diamantes brutos extraídos da Rússia.
A proibição faz parte do pacote de sanções impostas à Rússia pelas nações ocidentais e os seus aliados a seguir à invasão da Ucrânia pelo Presidente Vladimir Putin, em 2022.
Mas as sanções contra os diamantes russos, destinadas a enfraquecer a economia russa devido à invasão, podem ameaçar a estabilidade do mercado global de diamantes, de acordo com M'Zee Fula Ngenge, chefe do Conselho Africano de Diamantes (ADC).
"Quando se olha para a proposta do G7, que afeta a indústria global de diamantes, tem de se ter em consideração que África é quem domina a produção coletivamente", afirma Fula Ngenge à DW.
Botswana assume o lugar da Rússia
Antes da proibição, a Rússia era o maior produtor de diamantes do mundo.
"O que é bom para um é mau para o outro. Não somos contra a Rússia", afirma Ngenge, "mas o facto deste país estar sujeito às sanções faz com que Botswana suba para a primeira posição."
Segundo Fula Ngenge, outro país africano pode até entrar para o grupo dos nove maiores produtores de diamantes.
"Agora, a maioria das nações que compram diamantes apoia-se em nós", diz Ngenge, acrescentando que isso é uma oportunidade para o continente sair da sombra neste setor.
"O G7 deveria ter-nos consultado"
No entanto, os produtores de diamantes africanos referem que os países do G7 deveriam tê-los consultado antes de proibir os diamantes russos.
Entre as nações do G7, só o Canadá produz diamantes.
"Eles [G7] deixaram-nos totalmente de fora da discussão, considerando que somos os líderes mundiais [na produção de diamantes]. Deveriam ter-nos consultado primeiro", sublinha Fula Ngenge.
Além disso, o G7 exige aos países africanos que enviem os seus diamantes para Antuérpia, na Bélgica, para certificação. Antuérpia é considerada o centro nevrálgico da indústria diamantífera.
O Botswana critica a exigência, argumentando que ela cria obstáculos na cadeia de abastecimento. O Presidente do país, Mokgweetsi Masisi, deverá reunir-se a 21 de junho com o chanceler alemão Olaf Scholz para discutir o processo de certificação.
O processo de Kimberley
Os diamantes extraídos em África já estão sujeitos ao processo de Kimberley, para impedir que "diamantes de sangue", extraídos em zonas de conflito, cheguem ao mercado.
"Empurrar tudo para Antuérpia é um passo atrás", comenta Fula Ngenge, enfatizando que os produtores de diamantes africanos aderem estritamente à certificação do processo de Kimberley.
"Passámos os últimos dois anos a tentar perceber como acabar com os diamantes russos, quando não houve esforços suficientes para parar a guerra [na Ucrânia]."
Rússia no setor de diamantes em Angola
A Rússia tem uma participação de 41% na principal mina produtora de diamantes de Angola, Catoca. Fula Ngenge observa que a mina está agora sob pressão devido às sanções contra os diamantes russos.
O Conselho Africano de Diamantes (ADC) disse que estava a considerar afastar a Rússia, porque "não querem ser associados a nada negativo e que possa afetar potencialmente os diamantes que estão a ser extraídos no país sem conexão com a Federação Russa".
A proibição dos diamantes russos pelo G7 trouxe aos países africanos um maior papel no comércio global de diamantes.
"O meu trabalho é convencer [o resto do mundo] que somos poderosos e influentes o suficiente para nos anteciparmos e ensinar a alguns dos principais centros de diamantes como conduzir os negócios."