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Saúde em crise na província angolana da Huíla

Anselmo Vieira (Lubango)
19 de fevereiro de 2018

Na Huíla, médicos e autoridades fazem um alerta: os hospitais precisam de reformas urgentes e mais pessoal. Setor da Saúde deve contar com mais 135 milhões de euros do que inicialmente previsto no Orçamento do Estado.

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Kinderkrankenhaus in Lubango, Angola
Hospital pediátrico sofre com infiltrações e falta de pessoal Foto: DW/A. Vieira

Falta tudo na maternidade da capital da província, Lubango, segundo a diretora, Luísa Rodrigues. "A estrutura física está a degradar-se. Tem infiltrações em todos os lados, até no bloco operatório tem infiltrações. As paredes estão estragadas, nem se consegue pintar por causa das infiltrações. O teto em si tem infiltração, o teto falso está todo a cair. Quando chove, a ala debaixo é um desastre, as ratazanas de todo este bairro vêm parar todas aqui, apesar de fazermos a desinfestação", relata a directora.

Os problemas não terminam por aqui. A maternidade também tem falta de pessoal médico. "Não temos nenhum médico anestesista. A maternidade devia ter, pelo menos, dois técnicos de anestesia em cada equipa do banco de urgência. Neste momento, está a trabalhar um técnico de anestesia sozinho", conta Luísa Rodrigues.

Saúde em crise na província angolana da Huíla

A um quilómetro de distância da maternidade fica o Hospital Central do Lubango. O hospital foi reabilitado em 2012, mas também está com problemas. Os elevadores, por exemplo, estão avariados, segundo o diretor do gabinete provincial da saúde da Huíla, Eleutério Hivilikwa.

"Não há nenhum elevador a funcionar no hospital. Este hospital tem oito andares. Tirar um doente do primeiro andar ao sétimo andar tem sido uma dor de cabeça. Usa-se alternativas que são muito arriscadas. Muitas vezes, as famílias é que têm de carregar o doente na maca", conta.

Hospital em risco de ser fechado

Eleutério Hivilikwa teme que, se não for feito nada, o hospital possa ter de fechar daqui a um ano ou dois. "O Hospital Central do Lubango não foi reabilitado. As pessoas  pintaram as paredes, pintaram alguns tubos, mas não foram mais ao fundo, porque é um hospital que filtra água em todo o canto e esta água vai destruindo quase tudo: as paredes e até os aparelhos", afirma.

Além disso, faltam medicamentos e há médicos russos que estão há dois anos sem salários, revela o diretor do gabinete provincial da saúde da Huíla. Conta que reecebeu uma carta do governador da Huíla, "emitida pela Missão Russa, a informar que a qualquer momento vai retirar os seus profissionais por falta de pagamento".

"Se estes especialistas russos saírem do hospital, teremos de fechar alguns serviços porque há especialidades que são asseguradas só por russo. Refiro-me à cirurgia geral, a neurocirurgia, a cirurgia pediátrica, anestesia então é um risco muito grande. E temos trabalhadores eventuais maior parte são eles então é uma grande ameaça", sublinha Hivilikwa.

O governador provincial da Huíla, João Marcelino Tyipinge, pede mais dinheiro para o setor da Saúde. "O problema fundamental é o orçamento, que é muito pouco. Portanto, é grave. São coisas que não se devem adiar, tem de se trabalhar com o Ministério [da Saúde]. Estes serviços têm de ser repostos", explica.

Em Angola, o setor da Saúde deverá contar, este ano, com mais 135 milhões de euros do que o previsto inicialmente no Orçamento Geral do Estado. A decisão foi tomada durante a discussão do Orçamento na Assembleia Nacional, que terminou na última quarta-feira (14.02).