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Semanário Angolense acaba na fogueira

30 de outubro de 2012

A edição do Semanário Angolense deste fim de semana não chegou a ver a luz do dia. Desta vez por conter um discurso muito crítico do presidente da UNITA, Isaias Samakuva.

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Foto: António Cascais

A edição deste fim de semana do Semanário Angolense acabou numa fogueira. No sábado passado a Media Investe, empresa que detém o semanário, decidiu censurar a edição de 27 de Outubro, por este ter publicado quase na íntegra, o discurso do líder da oposição, Isaías Samakuva.

Nesta intervenção criticava-se o facto do presidente José Eduardo dos Santos não ter feito o discurso sobre o estado da nação na abertura da terceira Legislatura, como prevê a Constituição. Em vez disso, o presidente angolano mandou distribuir as cópias do seu discurso aos deputados, uma atitude bastante criticada no país.

A Media Investe é controlada por oficiais de alta patente do SINSE, os serviços secretos angolanos.

A DW ouviu acerca deste caso o defensor dos direitos humanos angolano Rafael Marques.  

DW: Trata-se mais um caso de censura?

Rafael Marques: Sim é mais uma forma de controlo da informação que circula. O presidente da UNITA fez um discurso bastante contundente que teve grande aceitação na sociedade pelas idéias que expôs e por ter sido uma réplica à falta de discurso sobre o estado da nação.  Daí a necessidade de ter que garantir que o discurso de Isaías Samakuva não tenha ampla circulação, ele está a circular apenas na internet e como é do conhecimento geral Luanda e o país sofrem uma grave crise de abastecimento de eletricidade. Logo muito poucas pessoas têm acesso à internet  e os jornais são mais lidos, porque um jornal pode ser lido por várias pessoas. Agora também os jornais privados são controlados pelo aparelho de segurança e neste caso houve uma falha dos censores, mas mesmo assim ainda foram a tempo de ir buscar os jornais da impressão diretamente para a queima.

Rafael Marques de Morais, uma das mais crtíticas vozes do regime angolano
Rafael Marques de Morais, uma das mais crtíticas vozes do regime angolanoFoto: privat

DW: Como avalia o constante silêncio do presidente angolano?

RM: O presidente não fala muito porque não consegue justificar os seus atos que se mostram cada vez mais erráticos, como o facto de ter constituído o fundo soberano sem respaldo legal e ter colocado o filho à frente do fundo num claro acto de nepotismo e de desafio ao bom senso.

DW: Esta retirada do Semanário Angolense é mais uma prova que José Eduardo dos Santos não respeita a liberdade de expressão?

José Eduardo dos Santos, o presidente angolano é acusado de desprezar o seu povo
José Eduardo dos Santos, o presidente angolano é muitas vezes acusado de nepotismoFoto: Reuters

RM: Há década que o presidente angolano demonstra o seu total  desrespeito pelo povo angolano. Quanto mais corrupto se manifesta, quanto mais bens públicos desvia para a sua família, e quanto mais lugares no aparelho de Estado atribui a familiares, mais sente a necessidade de mostrar desprezo pela sociedade para que não seja criticado.  Veja nomeou a sobrinha como diretora do seu gabinete, outro sobrinho para a direção do Centro de Impressa. Este é praticamente um governo "Dos Santos".  


Autora: Nádia Issufo
Edição; Helena Ferro de Gouveia / António Rocha

Semanário Angolense acaba na fogueira