Sinais positivos na procura de vacina contra a Covid-19
16 de julho de 2020É o "Santo Graal" em plena pandemia: em todo o mundo, a corrida para obter uma vacina contra a Covid-19 não pára. Os cientistas são os novos "cavaleiros", à procura de formas de criar imunidade no organismo humano contra o novo coronavírus. E há notícias positivas.
Esta semana, a empresa norte-americana de biotecnologia Moderna anunciou que, a 27 de julho, comecará a fase final de testes da vacina em humanos. 30 mil pessoas participarão nos ensaios clínicos durante três meses. No entanto, o estudo só deverá ficar concluído em outubro de 2022, embora os primeiros resultados sejam esperados mais cedo.
No Reino Unido, uma investigação da Universidade de Oxford também teve resultados encorajadores. Uma vacina testada em 1.000 voluntários gerou uma resposta imunitária contra o novo coronavírus, noticiou o jornal britânico Daily Telegraph esta quinta-feira (16.07). A Rússia também revelou que pretende produzir 30 milhões de doses de uma vacina experimental ainda este ano. A fase 3 (a fase final dos ensaios clínicos, antes da vacina ser submetida a aprovação) deverá começar em agosto.
Ao todo, há mais de uma centena de vacinas a serem testadas neste momento. Algumas já estão numa fase bastante avançada. É o caso da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em cooperação com a farmacêutica britânica AstraZeneca, a AZD1222, e é também o caso da Coronavac, da empresa chinesa Sinovac. Além dos ensaios clínicos nos países de origem, as vacinas também estão a ser testadas por voluntários no Brasil (e na África do Sul, no caso da AZD1222).
Os métodos adotados para chegar à vacina são variados. Por um lado, a AZD1222 usa um adenovírus modificado geneticamente - enfraquecido - com uma proteína do novo coronavírus que desencadeia uma resposta imunitária no organismo humano. Já a Coronavac usa uma versão "desativada" do vírus.
Mas este é apenas o primeiro passo. Produzir este tipo de vacinas costuma demorar muito tempo e ser bastante caro uma vez que, quando a vacina é aprovada, os laboratórios têm de produzir grandes quantidades do vírus "enfraquecido" ou "desativado".
Vacinas genéticas - uma alternativa?
Há outras maneiras de chegar ao "Graal". Os cientistas dizem que é possível produzir vacinas de forma mais rápida e económica, nomeadamente com as chamadas vacinas genéticas, de ADN ou ARN. A vacina em desenvolvimento nos EUA pela empresa Moderna é deste género.
Estas vacinas usam uma pequena parte da informação genética do vírus - apenas o suficiente para desecandear uma resposta imunitária - e a proteína pode ser produzida diretamente na célula. Segundo os especialistas, é possível reproduzir a informação genética do vírus de forma relativamente fácil. Seria o ideal numa situação como a de hoje, com milhares de milhões de pessoas a precisarem rapidamente de proteção contra o novo coronavírus.
"Essa é a grande vantagem da vacina de ARN, se funcionar bem", afirma Peter Doherty, Prémio Nobel da Medicina e professor de imunologia na Universidade de Melbourne, na Austrália.
Outra vantagem é que estas vacinas são mais estáveis em ambientes quentes do que as vacinas tradicionais. Isto, se forem mantidas num local "seco e/ou estéril, com pH de 8", explica George Church, professor de genética na Escola de Medicina de Harvard.
Ou seja, as vacinas genéticas "podem ser armazenadas à temperatura ambiente sem perderem eficácia enquanto as vacinas tradicionais precisam de refrigeração", acrescenta Sarah Gilbert, professora de vacinologia na Universidade de Oxford. Podem inclusive ser eficazes em casos de doenças não-infeciosas, como o cancro ou doenças autoimunes.
Há desvantagens?
Segundo a Organização Mundial de Saúde, ainda há várias questões por compreender em relação à resposta imunitária causada por vacinas genéticas. Mas isso "não impediu um progresso significativo em relação ao uso deste tipo de vacinas em humanos", refere.
Sarah Gilbert diz ainda que, geralmente, as vacinas genéticas codificam apenas uma proteína do patógeno. "Sendo assim, não serão tão boas quando é necessária uma resposta imunitária contra várias proteínas para estar protegido. No entanto, isso pode-se alcançar com um cocktail de vacinas."
Os métodos para fazer chegar a informação genética às células ainda precisarão de ser aprimorados com o tempo e com mais experiência. Alguns cientistas usam um "plasmídeo" de ADN, uma molécula que funciona basicamente como um veículo de transporte para a vacina. Outros usam "electroporação" - pulsos elétricos que criam aberturas temporárias na membrana celular para permitir que a vacina entre.
As vacinas genéticas "não alteram o ADN das pessoas", explica Sarah Gilbert. "Proporcionam apenas uma adição temporária num pequeno número de células. As vacinas de ADN não entram no genoma" humano, garante a professora. Imitam apenas o que acontece quando somos infetados por um vírus.
Para quando uma vacina genética contra a Covid-19?
Algumas vacinas genéticas foram aprovadas para uso veterinário. E há muitas outras em ensaios clínicos em seres humanos, incluindo para o novo coronavírus.
Muitos cientistas recorrerão a "ensaios clínicos adaptativos" para acelerar o processo de desenvolvimento das vacinas. De acordo com Alta Charo, professora de Direito e Bioética na Universidade de Wisconsin-Madison, este tipo de ensaios são menos "estáticos" e proprocionam aos cientistas uma maior flexibilidade durante a investigação, permitindo que se adaptem à medida que surgem os dados enquanto avançam na pesquisa. Nos ensaios clínicos tradicionais, os cientistas dão um passo de cada vez.
Mas, em tempo de pandemia, o tempo urge. Com ensaios clínicos adaptativos é possível que uma vacina possa ser aprovada antes de serem completados todos os testes. "Seria necessário fazer posteriormente pesquisas, para confirmar as primeiras indicações" nos mercados-cobaias, diz Charo, "e se essas pesquisas não confirmarem as primeiras indicações, o medicamento ou a vacina podem ser retirados".
De todas as formas, só se consegue perceber totalmente os efeitos de uma vacina quando ela é distribuída. Nas palavras de Peter Doherty, trata-se de um "teste em larga escala. As pessoas estão preocupadas com a segurança, mas mesmo uma vacina parcialmente efetiva pode ser útil. Veremos como isso será avaliado pelos órgãos de regulação e pelas pessoas que produzem as vacinas."