Sobe pressão para Alemanha reconhecer genocídio na Namíbia
15 de junho de 2016Aumenta a pressão para a Alemanha reconhecer o genocídio na sua antiga colónia do Sudoeste Africano, a atual Namíbia. Entre 1904 e 1908, as tropas alemãs mataram mais de 60 mil herero e nama, depois destes povos se terem revoltado contra o poder colonial. Até agora, Berlim sempre se recusou a reconhecer os assassinatos em massa como genocídio.
Mas, a 2 de junho, o Parlamento alemão quebrou um tabu e reconheceu o genocídio do povo arménio por forças otomanas em 1915. Agora, é o próprio presidente do Parlamento a dizer que é "lamentável e embaraçoso" que não haja uma posição da Alemanha sobre a Namíbia tão clara como a declaração sobre a Arménia.
Por outro lado, sublinha Norbert Lammert, "houve um debate no Parlamento sobre o tema no ano passado e depois visitei a Namíbia, o que ajudou a iniciar o processo de diálogo entre os dois países."
Vários parlamentares da oposição apoiam publicamente a iniciativa do presidente do Bundestag. Uwe Kerkeritz, deputado dos Verdes, disse ao diário "Berliner Zeitung" que a Alemanha não pode fugir às suas responsabilidades e que, por isso, o Parlamento alemão deve reconhecer rapidamente o genocídio.
Medo de compensações
Até agora, todas as iniciativas que consideravam os assassinatos em massa na atual Namíbia como genocídio acabaram derrotadas no Parlamento. Segundo outro deputado dos Verdes, Hans-Christian Ströbele, há um receio de que a Alemanha tenha de pagar compensações.
"A ideia é que, se começarmos a questionar os crimes do nosso passado colonial, seremos também responsáveis por compensações ou reparações. E onde é que isso iria terminar?", explicou Ströbele em entrevista ao canal de televisão alemão ZDF.
Atualmente, os deputados alemães discutem mais um projeto de reconhecimento do genocídio. No entanto, as conversações oficiais entre a Alemanha e a Namíbia, que começaram no início do ano e decorrem em paralelo, chegaram a um impasse. O diálogo deveria ter sido retomado esta semana na capital namibiana, Windhoek. Mas, de acordo com a rádio nacional alemã Deutschlandfunk, o Governo namibiano solicitou um adiamento. O Executivo está a ser pressionado pelos grupos herero e nama.
"Queremos negociar diretamente com o Governo alemão", afirma Israel Kanautjike, um ativista herero que vive em Berlim. "O Governo namibiano deve apenas atuar como mediador. Afinal, as vítimas do genocídio foram os povos herero e nama."
Apesar do retrocesso, o Governo alemão está confiante que as conversações a nível governamental serão concluídas este ano. O reconhecimento do genocídio poderá ser aprovado ainda antes, se a atual pressão dos média e do público se mantiver.