Somália enfrenta pior seca dos últimos 60 anos

A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou esta ajuda no início da sua visita a África, numa reunião em Nairobi com o presidente queniano, Mwai Kibaki. Merkel prometeu 1 milhão de euros para ajudar os refugiados somalis que afluem ao campo de Dadaab, no Quénia, para fugir à seca e aos combates.

Este campo foi originalmente construído para albergar um número máximo de 90 mil pessoas. Mas, hoje em dia, vivem 380 mil refugiados dentro do complexo. Nas imediações, estarão ainda a viver outras 60 mil pessoas, segundo informações do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que gere o campo.

Num bloco que antes era destinado a uma família, hoje têm de viver até cinco famílias e o ACNUR tem cada vez mais dificuldades para garantir serviços essenciais como o acesso à água, à educação e a condições sanitárias básicas.

Em Dadaab, a maior parte dos refugiados provém da Somália. Este é o país que mais tem sofrido com a seca no Corno de África. De acordo com as Nações Unidas, a falta de água já afetou mais de 10 milhões de pessoas nesta região, que enfrenta a pior seca dos últimos 60 anos.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, classificou a situação na Somália como "o pior desastre humanitário no mundo". A seca veio apenas piorar a situação já crítica que se vivia no país, resultado de 20 anos de combates permanentes e guerra civil.

Diariamente, milhares de pessoas deslocam-se para os campos de refugiados. Muitas delas morrem na viagem devido à fome e desidratação, refere o ACNUR. Para chegar lá, muitos terão também de pagar até 150 dólares por pessoa a passadores que lhes indicam o caminho e, ao mesmo tempo, se enriquecem neste quadro de miséria.

Fome é agravada por especuladores

Devido à seca, as reservas de sorgo e milho praticamente se esgotaram. O pouco que ainda está disponível é vendido por especuladores a preços exorbitantes, de acordo com o coordenador das Nações Unidas para a ajuda humanitária na Somália, Mark Bowden.

"O que é necessário nesta altura é ajudar as pessoas confrontadas com um aumento dos preços em cerca de 270%", referiu Bowden. "Deve-se baixar os preços dos produtos alimentares ou então os víveres devem ser fornecidos para que essas pessoas possam alimentar as suas famílias".

No entanto, também as reservas de víveres do Programa Alimentar Mundial (PAM) diminuíram consideravelmente em setembro. De acordo com as Nações Unidas, 2,5 milhões de somalis, isto é, um terço da população, estão gravemente subnutridos.

Para Mark Bowden, o mais importante é travar os movimentos migratórios no país: "O risco de morrer para aqueles que decidem abandonar as suas regiões é ainda mais elevado. Principalmente as crianças estão num estado nutricional desastroso quando chegam aos campos de refugiados no Quénia ou na Etiópia".

Al-Shabaab lança apelo a comunidade internacional

O sul da Somália, a região mais duramente atingida pela seca, é controlado pelas milícias radicais islamistas Al-Shabaab, que lançaram à comunidade internacional, a muçulmanos e não-muçulmanos, um apelo à ajuda.

Este apelo é visto por observadores como um sinal que demonstra bem a situação dramática que se vive naquela região. Um apelo que já foi saudado pela ONU, que exige, contudo, algumas garantias de segurança.

Autor: Antje Diekhans / António Rocha / Guilherme Correia da Silva

Edição: Marta Barroso