Sudão do Sul: cinco anos de independência
8 de julho de 2016Depois do estabelecimento do Governo de transição de unidade nacional no Sudão do Sul, em abril deste ano, como parte da implementação do acordo de paz, que as expetativas de muitos sul-sudaneses por reformas económicas rápidas eram altas.
No entanto, pouco mudou desde o fim oficial do conflito entre o Presidente Salva Kiir e as forças do agora vice-presidente Riek Machar, há pouco mais de dois meses.
A queda nos preços globais do petróleo fez diminuir a receita do país. A guerra também levou a uma redução da produção total de petróleo em 30%.
Os preços dos produtos básicos mantiveram-se elevados. Por exemplo, um quilo de açúcar custa 0,85 dólares; uma barra de sabão 0,80 dólares. Estes são os mesmos preços que existiam antes da formação do Governo de transição de união nacional e quando Machar ainda estava no mato.
Em cima disso, a libra sul-sudanesa perdeu muito valor em relação ao dólar: a taxa de câmbio passou de 35 para 49 libras sul-sudanesas por cada dólar norte-americano.
Comemorações da independência canceladas
Michael Atit, um jovem sul-sudanês, não está satisfeito com o cancelamento das comemorações do quinto aniversário da independência. “Não é só o adiamento da celebração, são também as histórias que ouvimos sobre o conflito no Sudão do Sul, o tipo de situações económicas que o nosso país está a atrassevar. Isso não nos dá uma boa imagem no mundo lá fora”, explica.
Já Bidali Aligo Samson, ativista da sociedade civil, é da opinião de que o dinheiro “deve ser usado de forma adequada”. E há muitos setores que poderiam beneficiar da verba que seria utilizada nas comemorações. Os funcionários públicos não recebem salários há quatro meses e Samson acrescenta que “também é necessário dinheiro para o setor da educação”.
Violência continua, mesmo depois da indepedência
Em 2011, o Sudão do Sul separou-se do Sudão, conseguindo a independência depois de lutar contra o Governo sudanês durante mais de duas décadas. Mas isto não significou o fim da violência no país.
A nação mais jovem de África foi devastada por uma guerra que irrompeu em dezembro em 2013, quando o Presidente Salva Kiir demitiu o seu vice-presidente, Riek Machar. Dezenas de milhar de pessoas já foram mortas no conflito e há mais de 2,3 milhões deslocadas.
Nyagonah Tutu, ativista da Amnistia Internacional para o Sudão e o Sudão do Sul, responsabiliza ambas as partes pelos “assassinatos em massa, destruição de propriedades civis, raptos de mulheres e meninas, ampla disseminação de violência baseada no género, matança ilegal”.
Como parte do acordo de paz assinado no ano passado, Machar voltou à capital em abril e reassumiu o posto de vice-presidente num Governo de unidade nacional. Ainda assim, o conflito continua em algumas regiões do Sudão do Sul.
Em Wau, uma cidade a cerca de 650 quilómetros da capital, Juba, a situação é tensa. Tiros foram ouvidos esta quinta-feira (07.07) e cerca de 250 pessoas procuraram refúgio junto à base da Organização das Nações Unidas na região.
A base recebe, atualmente, cerca de 19 mil deslocados pelo conflito e mais de 160 mil civis encontram-se refugiados em campos da ONU por todo o país.
Também em Juba houve tiroteio na noite desta quinta-feira, com veículos militares bloqueando algumas ruas, segundo a agência Reuters.
Nyagonah Tutu quer que a comunidade internacional assegure que é feita a “pressão necessária” para que ambas as partes para garantir que ambas cumprem o acordo de paz. Considera que a comunidade internacional deve garantir “a responsabilização pelos crimes que foram cometidos no âmbito deste conflito”.