"Tabu" ganha prémio da crítica e falha Urso de Ouro
20 de fevereiro de 2012O jovem cineasta português João Salaviza, com a produção "Rafa", ganhou o Urso de Ouro de melhor curta-metragem. Ao receber o prêmio, Salaviza, que já tinha recebido também uma Palma de Ouro em Cannes, há três anos, com outro curta-metragem, "Arena", enviou um recado ao governo português: dedicará a ele seu Urso de Ouro, desde que até o fim do ano os políticos mostrem ter conseguido segurar a crise, que afeta igualmente o cinema.
Os lusófonos esperavam também uma estatueta para o filme português "Tabu", que teve co-produção brasileira, mas o diretor de Miguel Gomes ficou apenas com o prêmio paralelo Alfred Bauer, por um "trabalho de inovação singular".
Endeusado pela crítica, Miguel Gomes não escondeu sua insatisfação em não receber o prêmio principal. "Eu estou um pouco confuso por ter ganhado um prêmio por inovação, já que a minha intenção era fazer um filme à moda antiga," disse, provocando risos no publico. O Urso de Ouro para melhor filme ficou com os irmãos Taviani pelo filme "Cesare".
Foco social
Além dos prêmios para as produções lusófonas, a edição deste ano se destacou pelo prêmio de melhor atriz, que pela primeira vez na história do festival foi dedicado a uma atriz africana.
Rachel Mwanza, congolesa de 14 anos, viveu a personagem de uma menina soldado no filme "Rebelde", feito no Burundi. A vida de Rachel foi quase tão difícil quanto a da personagem por vivida ela – foi rejeitada pelos pais e vivia na rua, até ser ajudada por uma organização humanitária.
"Quando eu ainda era pequena, a minha mãe mudou-se para outra cidade, meu pai foi para outro lugar e eu me vi sozinha. Foi minha avó quem me cuidou. Vivíamos em um lugar precário, minha avó não suportava mais a situação e eu tive então de arranjar o que comer na rua e sobreviver sozinha", relatou a melhor atriz da Berlinale 2012.
O júri da edição deste ano do Festival de Cinema de Berlim, comandado pelo realizador inglês Mike Leigh, demonstrou preferência por filmes relacionados com questões sociais, como o massacre de ciganos na Hungria, reformas sociais na Dinamarca nos meados do século XVIII, ou a vida no interior da antiga Alemanha comunista.
Autor: Rui Martins/Francis França
Edição: Helena Ferro de Gouveia