Tempos negros para jornalistas no Burundi
21 de julho de 2017No dia 22 de julho de 2016, o jornalista Jean Bigirimana, de 37 anos, saiu da redação do jornal independente Iwacu na capital, Bujumbura. Ía em trabalho à vila de Bugarama, a cerca de 40 quilómetros de distância. Segundo informações que não puderam ser verificadas, a meio do caminho foi detido por agentes dos serviços secretos. O que é certo é que passou um ano, mas Bigirimana nunca mais voltou.
Agnès Ndirubusa, redatora no mesmo jornal, descreve o estado de espírito dos colegas: "Passado um ano, ainda nos parece incompreensível que um amigo desapareça sem deixar rasto", disse a jornalista à DW. "Reina a resignação. Arrepiamo-nos só de imaginar no que pode ter acontecido", disse Ndirubusa.
Campanha para Bigirimana
Pouco após o desaparecimento do colega, os responsáveis do jornal Iwacu lançaram uma campanha pela sua libertação, que chamou a atenção também da comunidade internacional. Houve um esforço para obrigar o Governo do Presidente Pierre Nkurunziza a posicionar-se. Bigirimana era um dos críticos mais pertinazes do Chefe de Estado, que violou a Constituição ao concorrer a um terceiro mandato presidencial nas eleições de 2015.
Muitos observadores consideram que o jornalista pagou pelo seu trabalho crítico. Mas desde o início o Governo rejeitou qualquer responsabilidade. A polícia nega que Bigirimana tenha sido preso pelos serviços secretos. E a justiça garante que o caso vai ser investigado.
Cadáveres no rio
Duas semanas após o desaparecimento foram encontrados vários cadáveres nos rios das imediações da capital. Uma equipa de jornalistas do jornal Iwacu, que acorreu ao local, acredita ter identificado o corpo do de Bigirimana. A polícia desmentiu tratar-se dos restos mortais do jornalista.
Ativistas dos direitos humanos não escondem o seu ceticismo. Os cadáveres não foram devidamente analisados. Não houve autópsias nem testes de ADN. Em vez disso, os corpos foram rapidamente enterrados. Jean Bigirimana não é o único jornalista e ativista dos direitos humanos que desapareceu no Burundi nos últimos dois anos. Em dezembro de 2015, Marie-Claudette Kwizera, da organização local de defesa dos direitos humanos Iteka, foi arrastada para dentro de uma viatura da polícia secreta e também desapareceu sem deixar rasto.
Tempos terríveis
Também no caso da ativista o Governo rejeitou qualquer responsabilidade, diz o jornalista e advogado Eddy Claude Nininahazwe. "Estes são tempos negros para os jornalistas independentes e ativistas dos direitos humanos no Burundi", disse à DW, acrescentando estar furioso também contra a justiça, por espalhar falsidades nas investigações e ocultar os fatos.
O fotógrafo e ativista dos direitos humanos burundês Teddy Mazina concorda que a liberdade de imprensa no país está a morrer. Em conversa com a DW, afirma que o caso de Jean Bigirimana é simbólico para um país que viola impunemente os direitos dos jornalistas e ativistas. Mazina acredita que o jornalista tenha sido assassinado. Passado um ano, afirma, ainda não houve uma investigação que merecesse o nome: "A mulher e os dois filhos de Bigirimana tiveram que fugir para o Ruanda, depois de terem sido ameaçados", conta.
Família aterrorizada
Em entrevista exclusiva à DW, a mulher de Bigirimana, Godeberte Haki Zimana, diz que mesmo no Ruanda continua a ser alvo de ameaças e terror. "Várias vezes atiraram sangue para a porta da nossa casa. Recebemos cartas anónimas. Escrevem que estamos a conspurcar a honra do meu país e que eu estou a cavar a minha própria sepultura".
O executivo do Burundi continua a negar qualquer envolvimento. O ministro dos Direitos Humanos, Martin Mivyanbandi, disse à DW: "O Governo burundês lamenta profundamente o desaparecimento do jornalista Bigirimana. Foram ativadas todas as instâncias competentes para encontrar os restos mortais do jornalista, caso esteja realmente morto, e obter informações".
O ministro acrescenta que muitos jornalistas saíram do país desde o início da crise política em 2015. Há que ter em consideração a situação política lembra, salientando que muitos conflitos se caracterizaram por uma total ausência de tolerância: "E os jornalistas tiveram um papel pouco abonatório. Muitos meios de comunicação social mostraram não estar à altura. Atiçaram o conflito espalhando falsidades", diz. Segundo Mivyanbandi, o Governo está a tentar convencer os jornalistas que saíram do país a regressar, para contribuírem para a reconciliação nacional. É improvável que haja muitos jornalistas que aceitem o convite.
Contribuição de Antèditeste Niragira.