Parte dos jornalistas refugiados nas matas já em segurança
13 de novembro de 2020A boa nova é dada pela diretora do Fórum das Rádios Comunitárias (FORCOM), Ferosa Zacarias: "Dos nove jornalistas que se encontravam nas matas, fugindo do conflito, sete já se encontram supostamente seguros. Digo supostamente seguros porque não há nenhuma segurança onde há fome e quando não se tem teto".
Sobre o seu destino, Zacarias diz que "alguns estão em Nampula, outros em Montepuez ou na própria capital de Cabo Delgado, Pemba, e Mueda. Mas estão muito debilitados fisicamente e psicologicamente".
Os jornalistas fugiram para as matas na sequência de um ataque e destruição da Rádio Comunitária São Francisco de Assis pelos terroristas a 31 de outubro, em Muidumbe.
Foram cerca de 12 dias de aflição, em que os jornalistas relatavam dificuldades de sobrevivência nas matas e também a dor por morte por decapitação de familiares.
Qual o paradeiro dos outros dois?
Contudo o desespero não terminou, a diretora da FORCOM informa que "outros dois [jornalistas] estão incontactáveis, não sabemos em que condições estão".
"Estão em parte incerta, não temos nenhuma informação. Não sabemos se estão vivos, são a nossa preocupação. Estão com as suas famílias, ambos são casados, fugiram para as matas com os seus familiares", refere Ferosa Zacarias.
Não é a primeira vez que o trabalho da Rádio Comunitária São Francisco de Assis, pertencente à diocese de Pemba (Igreja Católica), fica condicionado. Em abril deste ano, ataques terroristas obrigaram a equipa a interromper as atividades e procurar refúgio temporário em lugar mais seguro dentro da província de Cabo Delgado.
Sem segurança a rádio não reabre
Face às recorrentes investidas dos insurgentes, seria caso de se encerrar definitivamente a emissora?
O padre Edegard Silva Júnior, coordenador da rádio, afirma que "a reabertura da missão vai depender da orientação do senhor bispo. Por medida de segurança, a reabertura da rádio vai depender desse contexto e do presidente da rádio, o senhor bispo dom Luiz Fernando Lisboa".
Além disso, segundo o coordenador, há outros dois fatores fundamentais: o equipamento, "que provavelmente foi roubado ou destruído", e o abastecimento de energia elétrica.
"Há muitos meses que estamos sem energia. E ninguém vai colocar em risco a vida da equipa, nem abrir a rádio enquanto não houver condições", ressalta o padre.
Diante da violência que se vive no norte, a FORCOM defende que o Estado deve garantir a segurança dos cidadãos e alerta que o encerramento das rádios comunitárias nas regiões de conflito coloca em causa o direito da população a informação, garantido pela Constituição.