Guterres reconhece que Conselho de Segurança da ONU "falhou"
28 de abril de 2022O secretário-geral da ONU, António Guterres, reconheceu, esta quinta-feira (28.04), perante o Presidente Volodymyr Zelensky que o Conselho de Segurança "falhou em fazer tudo o que estava ao seu alcance para prevenir e acabar" com a guerra na Ucrânia.
"É um motivo de grande deceção, frustração e raiva", disse Guteres a Zelensky, em Kiev, a capital ucraniana. "Mas os homens e mulheres das Nações Unidas estão a trabalhar todos os dias para o povo da Ucrânia, lado a lado com tantas corajosas organizações ucranianas", acrescentou o secretário-geral da ONU.
O secretário-geral prometeu que as Nações Unidas vão aumentar os seus esforços "em todos os aspetos - coordenando-os com o Governo ucraniano a cada momento", afirmou.
Na conferência de imprensa que concedeu após o encontro com Zelensky, Guterres afirmou que o auxílio alimentar da ONU à Ucrânia já chegou a 2,3 milhões de pessoas, mas a organização pretende ajudar quatro milhões até maio e seis milhões de pessoas até junho.
Apelo ao fim da guerra
O ex-primeiro-ministro português garantiu ainda que a ONU está a "avançar no trabalho de prestação de contas e justiça ao monitorizar e relatar violações de direitos humanos onde quer que sejam detetadas".
Guterres voltou a apelar ao fim da guerra, declarando que "não irá desistir" desse objetivo.
"À medida que continuamos a pressionar para um cessar-fogo em grande escala, também continuaremos a esforçar-nos por medidas práticas imediatas para salvar vidas e reduzir o sofrimento humano, por corredores humanitários eficazes", disse, referindo a situação na cidade de Mariupol, no sul da Ucrânia, que vive "uma crise dentro de uma crise".
Durante a visita do secretário-geral das Nações Unidas, Kiev foi alvo de pelo menos dois bombardeamentos por parte das forças russas.
Os correspondentes da agência France-Presse (AFP) viram no local um edifício em chamas, janelas partidas, uma forte presença policial e socorristas. O presidente da Câmara de Kiev, Vitali Klitschko, confirmou no Telegram "dois ataques" a um dos distritos da capital.
As autoridades disseram que Guterres e a sua equipa estavam a salvo.
Crimes de guerra
O secretário-geral da ONU, António Guterres, visitou três das cidades mais atacadas pelas forças russas nos arredores de Kiev.
Em Busha, que se tornou um símbolo das atrocidades da guerra em curso no território ucraniano depois de terem sido descobertas dezenas de cadáveres espalhados nas ruas após a retirada das tropas russas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu uma investigação do Tribunal Penal Internacional.
"Quando vemos este lugar horrível, vemos como é importante ter uma investigação completa e estabelecer responsabilidades", disse Guterres, que se encontrou na terça-feira (26.04) com o Presidente russo, Vladimir Putin.
"Apelo à Rússia para que concorde em cooperar com o Tribunal Penal Internacional (TPI)", acrescentou.
A Ucrânia acusa os russos de terem massacrado civis em Busha, Borodianka e Irpin, as três localidades onde Guterres escolheu deslocar-se esta quinta-feira de manhã.
"Uma guerra no século XXI é um absurdo, nenhuma guerra é aceitável no século XXI", defendeu em Borodianka, lembrando que "o pior dos crimes é a própria guerra".
Guterres seguiu depois para Irpin, onde os combates entre as forças russas e ucranianas foram particularmente sangrentos.
"Toda a gente deve lembrar-se sempre de uma coisa: em qualquer guerra, são sempre os civis que pagam o preço mais alto", disse o secretário-geral da ONU em frente a um prédio de apartamentos parcialmente destruído pelos bombardeamentos russos.
É a primeira visita de Guterres à Ucrânia desde o início do conflito e acontece numa altura em que o responsável tem sido alvo de críticas pela sua alegada passividade em tomar medidas concretas para travar a guerra.
Retirar civis de Mariupol
A coordenadora humanitária das Nações Unidas (ONU) para a Ucrânia, Osnat Lubrani, anunciou esta quinta-feira que vai para o sul do país para preparar uma tentativa de retirada de civis de Mariupol, cidade praticamente controlada pelas forças russas.
No total, cem mil civis permanecem em Mariupol, cidade de meio milhão de habitantes antes da invasão russa, segundo as estimativas das autoridades ucranianas.
A autarquia de Mariupol, por seu lado, declarou que, pelo menos, 20.000 pessoas já morreram desde a ofensiva russa sobre a cidade.