Ucrânia quer aprofundar laços com África
31 de dezembro de 2022"Estamos a retomar as relações com dezenas de países africanos. No próximo ano, temos de reforçar isto. Já foram identificados 10 Estados onde serão abertas novas embaixadas ucranianas em África", disse recentemente o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Em outubro deste ano, o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, realizou um périplo por vários países africanos, num esforço para intensificar os laços diplomáticos entre Kiev e África.
Mesmo sem indicar os nomes dos países onde serão abertas as novas embaixadas ucranianas, a região da África subsaariana é a prioridade de Kiev numa altura em que Moscovo transforma o Sahel no seu bastião.
No entanto, Boni Yao Gebe, investigador do Centro para Assuntos Internacionais e Diplomacia da Universidade do Gana, questiona as intenções de Kiev nesta corrida a África.
"A questão é porquê agora. É algo que Ucrânia já tinha planificado, ou é por causa do atual conflito contra a Rússia?", questionou.
Presença aguardada
À DW África, Oleh Belokolos, antigo diplomata ucraniano, defende que há muito que se esperava por uma presença ucraniana mais forte em África.
"Primeiro precisamos de um apoio político. Compreendemos que há muita desinformação sobre o curso e o propósito da guerra. Por que é que estamos a lutar? Lutamos pela nossa independência. E isso é familiar a muitos países africanos", comentou.
Mas o analista Yao Gebe defende uma posição mais mediadora do continente africano: "Muitos países africanos já têm relações com a Ucrânia assim como com a Rússia. Agora não acho que a busca da Ucrânia pelo apoio na condenação da Rússia junto das Nações Unidas deva ser o principal objetivo. Isso é conflituoso e não é atrativo", considera.
No início do próximo ano, o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, tem agendadas visitas à Nigéria, Etiópia, Tanzânia e Quénia.
Maksym Subkh, representante especial da Ucrânia para o Médio Oriente e África, garante que Kiev está a nomear embaixadores para todos os países africanos onde ainda não têm representações diplomáticas.
Mas Oleh Belokolos tem algumas dúvidas sobre a efetivação deste processo. "Não sei se teremos capacidade financeira tendo em conta a invasão russa, e não sei como é que se vai efetivar", comentou.
O investigador Yao Gebe pede que África tenha uma posição concertada em busca de benefícios mútuos, na cooperação com o ocidente. "África pode ter uma só voz. Isto é o que falta no continente. Precisa-se de agir em coletivo, para discutirmos sobre os benefícios para o continente", concluiu.