Um ano após a guerra: Paz continua a ser difícil em Tigray
2 de novembro de 2023Assinala-se esta sexta-feira (03.11) um ano desde a assinatura, em Pretória, na África do Sul, do acordo de paz que pôs fim à sangrenta guerra na região de Tigray.
O conflito matou mais de 600 mil pessoas, de acordo com o ex-Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, o principal mediador de paz durante o conflito. E muitas mais ficaram feridas.
Haftom Kidai, de 25 anos, ficou ferido no campo de batalha. "Quando a guerra começou, as forças da Etiópia e da Eritreia entraram em Tigray e começaram a cometer atrocidades. Depois, recebi treino militar e juntei-me à luta como outros jovens de Tigray", contou à DW.
Várias partes do seu corpo ficaram paralisadas. O jovem vive agora num centro de cuidados do exército na capital de Tigray, Mekelle. Mas está orgulhoso pelo sacrifício que fez.
"Juntei-me à luta pelo meu país, pelo meu povo e por mim próprio. Não me arrependo dos sacrifícios que fiz. Fiz o que tinha de fazer".
As Nações Unidas estimam a guerra tenha causado o deslocamento de cerca de 1,7 milhões de pessoas e causado danos físicos e psicológicos a milhões de pessoas.
Regresso gradual à normalidade
Um ano depois, a vida começa a voltar à normalidade em Mekele. Vários serviços que estavam suspensos voltaram a funcionar e os habitantes da cidade desfrutam da paz.
Hagos Tesfay, um residente local, descreve como é viver em Tigray nos dias que correm: "Desde a assinatura do acordo de paz, foram abertos serviços como bancos, telecomunicações e eletricidade, que estavam fechados na maior parte das zonas de Tigray. Mas no distrito de Erob, nada mudou. A maior parte do distrito de Erob ainda é controlada pelo exército da Eritreia".
Para Bilen Mitiku, outro residente, há ainda muitos desafios. "Muita coisa permanece inalterada, muita coisa permanece na escuridão, sobretudo os nossos irmãos e irmãs deslocados internamente. Estão longe das suas casas há quase quatro anos", lembra.
O Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU reconhece que a situação humanitária continua crítica. Estima-se que mais de um milhão de pessoas permaneçam deslocadas internamente e que 1,5 milhões necessitam de assistência alimentar.
A seca, a cólera e os surtos de malária, além de uma praga de gafanhotos, também causaram danos e agravaram a já difícil situação.