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Criminalidade

África do Sul: Violência reflete problemas socio-económicos

Lusa | AFP | nn
6 de setembro de 2019

Pelo menos, dez pessoas morreram devido à violência xenófoba na África do Sul. A situação frágil da economia e os altos níveis de desemprego na população negra são apontados como as causas.

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Foto: picture-alliance/AP Photo

Pelo menos dez pessoas morreram e 423 foram detidas devido à violência xenófoba que atinge a África do Sul desde domingo (01.09), principalmente as cidades de Joanesburgo e Pretória. Os ataques, que visam sobretudo cidadãos estrangeiros, estão a chocar o país e a comunidade internacional.

Na quinta-feira, num discurso transmitido pela televisão, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, considerou os ataques injustificáveis.

Südafrika Präsident Cyril Ramaphosa
Presidente da África do Sul, Cyril RamaphosaFoto: Getty Images/AFP/P. Magakoe

"Nenhuma forma de raiva, frustração ou lamentação pode justificar estes atos de destruição e criminalidade arbitrária. Não pode haver desculpa para os ataques a residências e empresas de estrangeiros, assim como não pode haver desculpa para a xenofobia ou qualquer forma de intolerância”, afirmou o chefe de Estado sul-africano.

A população mostra-se preocupada. Nokuthula Ndlovu, uma jovem empresária a residir em Joanesburgo, conseguiu ver a violência a partir da janela de casa: "É uma total tragédia, é muito triste, especialmente os saques, homicídios, este caos… Não é bom para nós e vai assustar os investidores", lamentou.

Problemas económicos e diplomáticos

A economia da África do Sul está estagnada. Grande parte da população vive em situação de pobreza e há poucas perspetivas, especialmente para os jovens.

Xenofobia na África do Sul

O desemprego no país está abaixo dos 30%, mas é muito maior entre os jovens negros sul-africanos - estima-se que a taxa de desemprego neste grupo esteja entre os 80 e 90%. Em 2018, o crescimento económico foi de apenas 0,5% e ficou assim bastante abaixo das expetativas, segundo Matthias Boddenberg, da Câmara de Comércio alemã.

"Não só não se cumprem as expectativas, como se está aquém das necessidades. É inaceitável que cada terceira pessoa aqui não tenha emprego. Sem uma economia que funcione e que cresça, não se pode combater o desemprego", explica Matthias Boddenberg.

Protestos e boicotes

Os ataques desta semana provocaram a ira de vários países africanos. A violência levou mesmo o Governo sul-africano a "encerrar temporariamente" as missões diplomáticas na Nigéria, na sequência de ameaças.

A segurança em torno das marcas sul-africanas naquele país foi também reforçada, depois de apelos ao boicote e à violência em resposta aos ataques na África do Sul. Na terça-feira (03.09), um grupo de pessoas tentou vandalizar dois supermercados da marca sul-africana Shoprite, em Lagos. A gigante de telecomunicações MTN encerrou temporariamente as suas agências na Nigéria. Também houve protestos contra a xenofobia sul-africana em países como a Zâmbia e República Democrática do Congo.

África do Sul: Violência reflete problemas socio-económicos

Por outro lado, o Governo em Abuja também decidiu boicotar o Fórum Económico Mundial de África, que começou na quarta-feira na Cidade do Cabo. Apesar dos recentes confrontos não estarem na agenda do programa, os participantes do encontro não se inibem de comentar a situação no país, já que o próprio fórum foi palco de protestos contra a violência xenófoba e de género.

"É a desigualdade. Eu acho que foi a desigualdade que, por sua vez, alimentou a raiva, o que levou a estes protestos. Mas a desigualdade também aumenta com o desemprego. Portanto, há um verdadeiro desafio no combate ao desemprego e desigualdade", afirmou Jackie Chimanzi, uma das participantes no Fórum Economico Mundial de África.

Bright Simons também esteve presente no encontro e considera que há um sentimento de injustiça na sociedade sul-africana: "Muitas pessoas sentem que as suas vidas não estão a ser cuidadas. Sentem que é uma questão de justiça. É por isso que trazem este assunto até aqui", diz.

"Pode ser que chegue o momento em que elas possam levar este assunto às estruturas da economia global. E as pessoas nesta sala, que são quem toma decisões, que estruturam o mundo, precisam de reconhecer isso", concluiu.