Assassinado observador eleitoral em Gaza
7 de outubro de 2019Segundo um comunicado divulgado na sua página do Facebook, a Sala da Paz, uma plataforma da sociedade civil moçambicana que realiza observação eleitoral, anunciou que faleceu na sequência do baleamento ocorrido na manhã desta segunda-feira (07.10), na cidade de Xai-Xai, província de Gaza, Anastácio Matavel, diretor executivo do Fórum das Organizações da Sociedade Civil na Província de Gaza (FONGA) e membro da Plataforma de Observação Eleitoral Conjunta (Sala da Paz).
Ao comunicar a notícia a Sala da Paz repudiou o "ato bárbaro que culminou com a morte do seu membro, Anastácio Matavel", tendo o comunicado acrescentado que "a Sala da Paz, entende que estes atos são contra os direitos humanos e a liberdade de expressão plasmados na Constituição da República de Moçambique".
Assim, apela-se as autoridades competentes, para uma investigação aturada, com vista a serem encontrados os autores "deste crime hediondo e, de uma forma exemplar serem punidos". Por outro lado, a Sala da Paz "apela ainda aos seus observadores eleitorais na Província de Gaza para que continuem a levar avante o seu trabalho, reportando todos os incidentes eleitorais com isenção, transparência e sobretudo com rigor e profissionalismo".
Cerca de dez tirosDepois de ser baleado por volta das 11 horas de Moçambique, Matavel veio a perder a vida no Hospital Provincial de Gaza cerca de duas hors mais tarde. Estima-se que ele tenha sofrido cerca de dez tiros.
Matavel saía duma formação de observadores da Joint, uma organização da sociedade civil, onde fez a abertura e de seguida se retirou do local na sua viatura, tendo os malfeitores o seguido e baleado.Informações não oficiais dão conta que os malfeitores envolveram-se num acidente, enquanto tentavam fugir, no qual dois perderam a vida no local e outro foi neutralizado e está a contas com a polícia.
Ação contra observadores eleitorais
Carlos Mhula, da liga dos Direitos Humanos em Gaza, afirma que "esta ação macabra confirma as ameaças que são alvos os observadores eleitorais nacionais". Por outro lado destaca que a contundência do crime é uma clara intimidação à participação na vida política em Moçambique e também uma ameaça à democracia.
Para Carlos Mhula intimidar os observadores é também uma clara negação às eleições livres, justas e transparentes que se realizam no próximo dia 15 de outubro..
Entretanto lança um apelo a "todos que se inscreveram, abraçaram esta causa de observação eleitoral, que continuem a observar dentro dos princípios legais e aos que querem intimidar a sociedade civil no processo eleitoral que parem porque o envolvimento da sociedade civil nas eleições é irreversível. Não é possível termos eleições sem observadores, não é possível termos uma democracia que seja justa e transparente sem observadores sejam eles nacionais ou internacionais", sublinhou
Polícia investigaPor seu turno, o chefe das relações públicas no comando provincial da PRM, Carlos Macuacua afiançou a DW África que uma viatura com cinco ocupantes envolveu-se num acidente e presume-se que sejam os ocupantes da mesma que terão alvejado o diretor do FONGA
Macuacua confirmou que dois dos ocupantes desta viatura, morreram no acidente, um está ferido e a contas com os agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal, enquanto outros dois estão fugitivos.
O nosso interlocutor garantiu que estão em curso investigações ao cidadão ferido que é membro da polícia da Republica de Mocambique.
"Um deles esse que está sob investigação é membro da polícia da Republica de Moçambique e ele está sendo ouvido"
Carlos Macuacua diz que da viatura sinistrada foi recuperada uma pistola e presume-se que os fugitivos terão levado consigo AK47
Violência e intolerância política
Recorde-se que a Sala da Paz, ao fazer na última terça-feira (01.10) o balanço dos primeiros 30 dias da campanha eleitoral denunciou o aumento de violência e intolerância política no Sul do país na campanha em curso para as eleições gerais do dia 15.
"À medida que os candidatos presidenciais vão entrando na zona Sul do país, para realizar o contacto com os potenciais eleitores, os níveis de intolerância política e focos de violência vão apresentando uma tendência crescente", destacava o balanço que apresentava as províncias de Gaza e Inhambane e a cidade de Maputo como palco de violência eleitoral ao longo da campanha.
OcorrênciasNo dia 27 de setembro, a caravana do candidato presidencial do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, Daviz Simango, sofreu três tentativas de obstrução por supostos membros da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder. A ação resultou em confrontação física, quando Daviz Simango iniciava mais uma atividade de campanha, no distrito de Govuro, província de Inhambane. Ao prosseguir para a província de Gaza, o líder do MDM viu barrado o acesso ao mercado de Xai-Xai, o que veio a repetir-se quando seguia para o distrito de Mandlakazi.
Na tarde do dia 30 de setembro, a situação voltou a repetir-se no distrito de Chókwè, onde a polícia chegou a disparar para afugentar os manifestantes que tentavam bloquear a caravana do MDM.
Na cidade de Maputo, a Sala da Paz registou com preocupação a agressão física contra o candidato à Assembleia da República pelo partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) e candidato excluído ao cargo de Presidente da República, Hélder Mendonça.
No dia 26 de setembro, Hélder Mendonça sofreu violentos golpes à catana nos membros inferiores e foi espancado no rosto por indivíduos desconhecidos. Segundo o partido, a agressão tinha motivações políticas.Dias antes, José Chemane, que lidera a lista dos candidatos deste partido a deputados da Assembleia da República pelo círculo eleitoral da cidade de Maputo, também foi agredido e teve os seus bens saqueados por desconhecidos.
Nas primeiras semanas da campanha eleitoral, desconhecidos bloquearam o acesso à vila de Boane, província de Maputo, a uma caravana da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição. O bloqueio foi feito com recurso a pedras, covas e viaturas, colocadas na via, com panfletos do partido Frelimo.
No distrito da Manhiça, o candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, enfrentou dificuldades para fazer a sua campanha, por obstruções motivadas por intolerância política.