Zimbabué: População sofre com sanções dos Estados Unidos
7 de março de 2019O Presidente norte-americano Donald Trump anunciou, esta semana, que vai prolongar por mais um ano as sanções internacionais contra o Zimbabué. Impostas em 2001, estas restrições visavam várias instituições governamentais e funcionários, entre os quais, o presidente Emmerson Mnangagwa e o seu antecessor Robert Mugabe, no entanto, estão a ter um forte impacto também na vida da população.
Segundo Donald Trump, as políticas do governo do Zimbabué representam uma ameaça "incomum e extraordinária" para a política externa dos Estados Unidos.
Efeitos na população
Um grupo de jovens que poderiam ser estudantes universitários passa o tempo a jogar às cartas num mercado de roupas de segunda mão no centro de Harare, a capital do Zimbabué. Entre eles está Edwin Mhlanga, de 22 anos, que não conseguiu bolsa para seguir para o Ensino Superior. Este jovem conta que a família não tem possibilidades financeiras e que o pai foi despedido de uma empresa que exportava carne bovina para a Europa e Estados Unidos. A unidade fechou portas por causa das restrições impostas ao país.
Edwin Mhlanga não acabou a sua formação. "Eu e os meus amigos fizemos o ensino secundário, mas não temos dinheiro para seguir para a Universidade", conta o jovem à DW, explicando que o seu "único desejo" é que "a economia volte a funcionar" para que possa regressar à escola.
As dificuldades são muitas. Os zimbabueanos não conseguem comprar mercadorias online através de cartões de crédito. E algumas empresas da indústria criativa deixaram mesmo de comprar equipamentos por falta de acesso ao mercado.
Luckie Aaroni dirige uma start-up de produção cinematográfica em Harare. À DW conta que o maior problema "é com as compras online". "Ao não nos permitirem fazê-lo, não conseguimos comprar equipamentos a partir dos Estados Unidos ou de qualquer outro país, onde esses materiais são mais baratos", explica.
Governo surpreendido
Antes da extensão das sanções, o governo em Harare aguardava um alívio por parte das autoridades norte-americanas. "Nós, como país, estamos desapontados com os Estados Unidos, porque continua a haver uma atitude hostil contra o Zimbabué", começa por apontar Energy Mutodi, ministro da Informação do Zimbabué, que acrescenta que "os Estados Unidos, no espírito de ajuda às comunidades desfavorecidas, não devem continuar a aplicar sanções, devem sim incentivar-nos".
Também o analista político Alexander Rusero diz não duvidar que as sanções afetam as pessoas comuns e não as elites políticas. À DW afirma que "as sanções não são um instrumento diplomático viável ou uma ferramenta que possa ser usada para atingir um qualquer objetivo. As chamadas sanções direcionadas não afetam as elites. As elites podem continuar a ter acesso ao que quiserem fora do sistema americano".