Zimbabué: Prosseguem negociações entre Exército e Presidente
17 de novembro de 2017Em comunicado divulgado pelos meios de comunicação social estatais, os militares do Zimbabué anunciaram esta sexta-feira (17.11) que estão em curso conversações com o Presidente Robert Mugabe "sobre o caminho a seguir”. Enquanto negoceia com o chefe de Estado, o Exército continua a perseguir figuras próximas ao líder do Zimbabué e à sua mulher, Grace Mugabe.
As Forças Armadas falam em "progressos significativos” na operação para "eliminar os criminosos em torno do Presidente Mugabe”, acrescentando que alguns dos visados já foram detidos.
O comunicado diz ainda que os militares "avisarão a nação sobre o resultado [das conversações] o mais rapidamente possível”.
Entretanto, segundo a agência Reuters, o partido no poder, o ZANU-PF, planeia impugnar Robert Mugabe, se o Presidente não ceder o poder. Um membro do partido citado pela agência de notícias anunciou que o ZANU-PF vai reunir esta sexta-feira para redigir uma moção para demitir Mugabe.
Analistas acreditam que o Exército quer nomear o ex-vice-Presidente Emmerson Mnangagwa – demitido por Mugabe na semana passada – como líder interino.
A destituição do vice-Presidente é apontada como o gatilho da ação dos militares, juntamente com a hipótese de Grace Mugabe, a mulher do Presidente, garantir a sucessão na liderança do Zimbabué.
Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, fugiu para a África do Sul após a sua demissão, mas terá regressado ao país esta quinta-feira, segundo um assessor do ex-número dois do Mugabe que falou sob anonimato à AFP.
Robert Mugabe recusa sair
Esta quinta-feira (16.11), o Presidente Robert Mugabe recusou categoricamente ceder o poder aos militares e afastar-se da liderança do Zimbabué, que manteve durante os últimos 37 anos, em conversações com os generais que assumiram esta semana o controlo da capital, Harare.
Colocado em prisão domiciliária na noite de terça para quarta-feira, o chefe de Estado zimbabueano, de 93 anos, encontrou-se ontem à tarde, pela primeira vez, com o chefe do Exército no edifício presidencial em Harare, relatou, em declaração à agência noticiosa francesa France Presse (AFP), uma fonte próxima dos militares.
"Eles encontraram-se hoje. Ele [Mugabe] recusou demitir-se, penso que ele está a tentar ganhar tempo", disse a fonte, que falou sob anonimato.
Imagens divulgadas do encontro mostram Mugabe, o chefe do Estado-Maior, general Constantino Chiwenga, e os enviados especiais da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) numa sala do edifício presidencial na capital zimbabueana.
A missão da SADC é integrada pelos ministros sul-africanos da Defesa e da Segurança Nacional, enviados pelo Presidente Jacob Zuma, que preside atualmente à organização sub-regional da África Austral.
Exército nega golpe de Estado
O Exército zimbabueano tomou na madrugada de quarta-feira a televisão estatal, assumiu o controlo de edifícios oficiais e anunciou a detenção de Robert Mugabe, e da sua mulher, Grace.
Até à data, os militares rejeitaram a ideia de que esta crise, que também envolveu a detenção de vários ministros, é um "golpe de Estado".
Segundo o Exército zimbabueano, a operação foi desencadeada para visar "os criminosos" que rodeiam Mugabe, o mais velho dirigente em exercício do mundo, e não para desencadear "um golpe de Estado contra o Governo".
Num comunicado divulgado na quarta-feira, o porta-voz das Forças Armadas, S. B. Moyo, qualificou a ação como "uma correção" de uma situação política, social e económica que se degenerou e, se não fosse resolvida, podia desencadear um conflito violento.
Robert Mugabe está no poder desde a independência do Zimbabué, em 1980, e é o candidato da Zanu-PF às eleições presidenciais de 2018.