Zuma pede "calma" aos sul-africanos
5 de abril de 2017Os economistas já o tinham previsto. Na segunda-feira (03.04.), a agência de notação financeira Standard & Poor's (S&P) cortou o "rating" da África do Sul para "lixo".
"Na nossa opinião, as mudanças executivas iniciadas pelo Presidente Zuma puseram em risco o crescimento económico e as metas orçamentais", afirmou a S&P em comunicado.
As "mudanças executivas" a que a agência se refere dizem respeito à remodelação governamental realizada por Jacob Zuma na sexta-feira passada, que ditou o afastamento do ministro das Finanças Pravin Gordhan e do seu vice Mcebisi Jonas.
Política fiscal inalterada
Na terça-feira, o ministro que assumiu a pasta, Malusi Gigaba, comentou que a redução do "rating" significava, para o Governo, a necessidade de apostar ainda mais no crescimento da economia.
Gigaba prometeu resolver os problemas enunciados pela agência de notação financeira. E garantiu que a política fiscal do Governo permanecerá inalterada, apesar da mudança de ministros.
Zuma colocou-se do lado do novo ministro das Finanças, garantindo igualmente que não haveria mudanças na política fiscal. Apelou ainda aos sul-africanos para manter a calma e incumbiu os membros do Executivo de falar com os investidores internacionais, tentando conservar a sua confiança após a demissão Gordhan.
O "downgrade" da S&P fez cair de imediato o valor da moeda nacional sul-africana, o rand, e deverá contribuir para o aumento do custo da dívida, o que se traduziria em menos dinheiro disponível para setores fundamentais como a habitação, a educação e o saneamento.
Para Mark Heywood, membro do movimento sul-africano "Section 27", a decisão da S&P agravará a situação no país e significará, para a população, um aumento dos preços dos alimentos – as "pessoas deverão ficar sem eletricidade e não ter acesso a medicamentos. Há risco de perderem os seus empregos."
Isso poderá conduzir a mais greves e protestos no país, a acrescentar aos que já se têm registado em várias cidades sul-africanas.
Opositores ganham impulso
O analista Daniel Silke avisa que o caminho para sair do estatuto de "lixo" será longo e espinhoso e "não será possível se se mantiverem as políticas atuais".
Para John Ashbourne, analista para África na Capital Economics, a oposição tentará agora obter dividendos políticos do "downgrade" da S&P.
"A descida no "rating" impulsionará os opositores do Presidente Zuma, que usarão isso para provar que a remodelação governamental está a prejudicar o país", afirma.
A pressão cresce sobre o chefe de Estado sul-africano. Na terça-feira, a maior central sindical do país, o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (COSATU, na sigla em inglês), declarou que já não confia na liderança de Jacob Zuma depois de o Presidente ter demitido o ministro das Finanças. Zuma não é a "pessoa certa" para governar, disse Bheki Ntshalintshali, secretário-geral da COSATU.
A S&P é uma das três maiores agências de notação financeira no mundo. As outras duas são a Moody's e a Fitch. Previa-se que, na sexta-feira, a Moody's faria a revisão do atual "rating" de Baa2 da África do Sul, dois níveis acima da classificação de "lixo". Mas a revisão foi adiada. A Fitch, que classifica a dívida pública sul-africana apenas um nível acima de "lixo", não definiu uma data para rever a classificação.
A ala juvenil do partido no poder na África do Sul, o ANC, reagiu à classificação da S&P, em desafio: "Se o 'downgrade' fizer com o que país não tenha dinheiro, não teremos outra opção que não pegar nos recursos minerais e assegurar que eles servem o nosso país", afirmou o responsável da ala juvenil, Sifiso Mtsweni.