África a várias velocidades na vacinação contra a Covid-19
19 de abril de 2021Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), indicam que das cerca de 550 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 administradas a nível mundial, menos de 2% foram em África. Isto representa cerca de 11 milhões de doses.
Um total de 45 países africanos já iniciaram as campanhas de vacinação - algumas através de acordos comerciais bilaterais – sendo que 36 fizeram-no através da iniciativa global Covax da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta iniciativa já distribuiu cerca de 40 milhões de doses de vacinas das quais, mais de metade, foram para o continente africano.
"Este é um grande problema que a África enfrenta. Os nacionalismos atuais estão a minar a iniciativa Covax. O fornecimento de doses de vacinas que deveriam ser entregues em África através da Covax está atrasado em 20%", adverte Catherine Kyobutungi, diretora do Centro Africano de Pesquisa sobre População e Saúde, com sede em Nairobi.
"Não é saudável a longo prazo ter países como os EUA que pensam que precisam de vacinar cada cidadão no seu próprio país antes de pensarem em partilhar vacinas com outros”, acrescenta.
Faltam vacinas no continente
Segundo o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África), as vacinas entregues através da Covax não serão suficientes para acabar com a pandemia no continente.
"O Quénia, por exemplo, só conseguiu obter cerca de um milhão de doses daquele soro, ao passo que inicialmente era suposto haver 1,5 milhões. Isto nem sequer é suficiente para vacinar grupos prioritários, tais como trabalhadores da saúde e professores”, explica Catherine Kyobutungi.
Segundo a epidemiologista, o processo de vacinação no continente anda a várias velocidades. "Há os países que estão mais avançados do que a média e já vacinaram mais de 2% das suas populações. O Ruanda, o Senegal e o Gana estão entre eles. Depois há o grupo de países que começou lentamente, mas que aumentaram e que estão agora com cerca de 1% de cobertura vacinal", indica.
A vacina da AstraZeneca continua a ser o fármaco profilático mais utilizado em África, o que é em parte explicado pelo seu preço relativamente baixo e também por ser mais fácil de armazenar.
Sem oportunidade de escolha
As recentes suspeitas relacionadas com casos raros de surgimento de coágulos sanguíneos em pessoas que receberam a vacina da farmacêutica anglo-sueca também estão a causar debates em África. Mas a maioria dos países decidiu seguir os conselhos da OMS e prosseguir o processo de vacinação por se considerar que os benefícios da vacina superam os riscos.
"Os países ricos estão a rejeitar as vacinas da AstraZeneca e da Johnson & Johnson, por exemplo, porque podem ter alternativas. E estas vacinas acabariam em África porque a maioria dos países africanos não têm outra escolha", comenta Catherine Kyobutungi.
A África do Sul é um caso especial, que decidiu interromper o uso do imunizante da AstraZeneca - não devido aos efeitos secundários, mas porque havia provas de que aquele fármaco não era eficaz contra a variante sul-africana do coronavírus SARS-CoV-2.