África: Como reduzir o número de mortes no trânsito?
1 de janeiro de 2023Todos os anos, o número de acidentes nas estradas africanas aumenta.As razões são óbvias e semelhantes à situação noutras regiões do mundo: durante as férias do Natal e da Páscoa, muitos viajantes estão na estrada.
Se o consumo de álcool aumenta durante as férias, o perigo de ignorar os sinais de trânsito e exceder os limites de velocidade também aumenta. Os acidentes também podem acontecer pelo cansaço dos motoristas.
Em África, os perigos do tráfego rodoviário são particularmente elevados, e o número de acidentes rodoviários é superior ao de outros continentes.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de mortalidade neste continente é quase três vezes superior à da Europa, com 26,6 mortes por 100 mil habitantes - a pior taxa do mundo.
"Ranking"
Num ranking compilado pela plataforma de serviços de saúde "World Life Expectancy", com dados da OMS, a República Dominicana ocupa o primeiro lugar. É seguida pelo Zimbabué e Malawi, no sul. Depois vem Libéria e a Eritreia, no Corno de África. Só os países africanos seguem na lista até que a Venezuela apareça, no 26º lugar.
O Quénia ocupa a décima segunda posição neste ranking, com 48 mortes nas estradas por 100 mil habitantes. Aqui, o número de fatalidades em relação à população tem aumentado continuamente desde 2013. O ministro dos Assuntos Internos, Kithure Kindiki, anunciou uma abordagem mais dura contra os condutores que não obedecem às regras de trânsito.
Disse à imprensa que tinha instruído a polícia a tomar medidas contra todos aqueles que violam as regras de trânsito - sem excepção.
"Esperamos que todas as regras que regulam o trânsito nas nossas estradas sejam cem por cento cumpridas, por todas as pessoas, independentemente do seu estatuto ou posição social", disse ele.
África do Sul: "Arrive Alive" mostra efeito
Também na África do Sul, as autoridades de trânsito alertam cada vez mais os automobilistas para estarem atentos às estradas durante o período de Natal e Ano Novo. Com slogans como "Be safe - get there", as estações de rádio assinalam os perigos quase todas as horas.
A campanha "Arrive Alive", activa há anos, fornece dicas valiosas sobre o comportamento responsável ao volante, engarrafamentos e outras perturbações. Mas também sobre o planeamento de viagens num destino popular entre os turistas. E tem tido algum sucesso, pois, nos últimos anos, observou-se aqui um declínio no número relativo de mortes na estrada.
No entanto, de acordo com a OMS, cerca de 22,2 pessoas por 100 mil habitantes ainda morreram em acidentes rodoviários nas estradas sul-africanas em 2019.
Numa comparação africana, isso não é de todo mau. Mas, ainda assim, está bem acima da média global. Na Alemanha, por exemplo, cerca de quatro pessoas por 100 mil habitantes morreram em acidentes de viação em 2018.
Corrupção
O álcool é um factor decisivo nos acidentes na África do Sul, escreve o periódico científico "South African Journal of Science", no seu website. A revista científica recomenda a introdução de tolerância zero para a condução sob o efeito do álcool.
Globalmente, o pedido de penas mais severas para infracções de trânsito está a aumentar - até porque os polícias corruptos muitas vezes tornam mais difícil punir eficazmente os infractores de trânsito.
Também no Quénia, a corrupção contribui para a insegurança nas estradas. Os que queriam conduzir deviam primeiro ter aulas de condução e obter uma carta, diz Eunice Imwenda, gerente de uma escola de condução na capital Nairobi, diz à DW.
Mas "os nossos motoristas encurtam o caminho - compram papéis no balcão e no dia seguinte estão na estrada, conduzindo demasiado depressa - temos de estar atentos", explica.
Defeitos no veículo? Rezar não é suficiente
Na Nigéria, os acidentes rodoviários estão entre as principais causas de morte, juntamente com a insurreição e o banditismo. É o que revelam os dados do orgão federal de segurança rodoviária, o "Federal Road Safety Corps (FRSC)". Entre 2013 e 2020, há 41.709 mortes na estrada relatadas pelo Gabinete Nacional de Estatística.
O analista político Gbenga Akimbule adverte que, em muitos casos, deve realmente falar-se de "acidentes" e não de acidentes reais. Ele explica que um acidente de verdade é algo que não foi planeado. De outro modo, "se tiveres um pneu mau, e souberes que o pneu pode não te levar ao teu destino, e continuares a rezar e acreditar que Deus te levará até lá...Bem, isso é outra coisa", diz ele à DW.
"Faltam investimentos em transportes públicos"
"Acidentes rodoviários e colisões tornaram-se tão normais que dificilmente temos um dia sem que haja um relatório de acidente rodoviário que ceifa vidas, ou cause incapacidades permanentes às vítimas", diz Badiya Sani, de Maiduguri, numa entrevista DW.
"Quem não possui um carro, não têm outra escolha senão mudar para os transportes públicos. Mas fazemô-lo com muito medo", salienta.
Assim como em muitos países africanos, falta uma boa rede de transportes públicos ou os meios de transporte. Autocarros ou miniautocarros estão em mau estado, nem sempre tecnicamente testados e, por isso, frequentemente envolvidos em acidentes. O governo deve fazer mais quanto a isto, exige Sani.
No Quénia, os táxis de mota locais - chamados 'bodaboda' - são um meio de transporte público popular. Mas são também responsáveis por um número particularmente elevado de acidentes, diz Evans Langat da Autoridade Nacional de Transportes e Segurança (NTSA) diz à DW.
É por isso que a autoridade está a concentrar-se num trabalho educativo, diz Langat. E se diz otimista: "Sensibilizamos todos os condutores, e penso que a mensagem está a chegar".