África do Sul: conheça o novo Governo de Ramaphosa
27 de fevereiro de 2018Onze dias após ter assumido o poder na África do Sul, o novo Presidente do país, Cyril Ramaphosa, deu a conhecer o seu novo Governo. Na lista das escolhas do novo Presidente da África do Sul há algumas novidades. Nomes que foram riscados por se considerarem muito próximos a Jacob Zuma, ministros que voltam a assumir pastas depois de terem sido afastados do Governo antecessor e novas caras. Ao todo, são cerca de 30 as alterações levadas a cabo. Mas, conseguirá Cyril Ramaphosa agradar a gregos e troianos?
Duas das nomeações mais comentadas são as de dois ex-ministros das Finanças: Nhlanhla Nene e Pravin Gordhan. Os dois foram, no passado, demitidos do Governo de Zuma. O regresso de ambos é, no geral, visto com satisfação. Nhlanhla Nene volta para re-assumir a pasta das Finanças, uma notícia que criou uma enorme confiança no mercado financeiro. Já Pravin Gordhan será ministro das Empresas Públicas - algumas das quais estão à beira do colapso devido à corrupção grave que assolou o país durante anos.
Analistas afirmam que, depois da nomeação destes dois novos membros, o Rand se manteve estável em relação ao dólar dos Estados Unidos da América.
Depois do novo gabinete ter sido tornado público, esta segunda-feira (26.02), o Presidente Ramaphosa pediu à nação uma oportunidade. "Ao fazer estas mudanças, tenho sido muito cauteloso quanto à necessidade de equilibrar a estabilidade do país com a necessidade de renovação, recuperação económica e transformação acelerada", afirmou.
Oposição critica escolhas
Numa tentativa de apaziguar as várias facções do Congresso Nacional Africano (ANC) - o partido no poder - Ramaphosa anunciou o afastamento de vários aliados do seu antecessor Jacob Zuma. O que por si só não bastou para agradar a todos.
O Presidente Ramaphosa escolheu o atual presidente da província de Mpumalanga, David Mabuza, para seu vice-presidente. Malusi Gigaba, até aqui ministro das Finanças e fortemente criticado pelas suas ligações à família Gupta, foi transferido para o ministério dos Assuntos Internos. E o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Bathabile Dlamini, dirige agora o ministério das Mulheres. Também a ex-mulher do ex-Presidente, Nkosazana Dlamini-Zuma, foi nomeada ministra da Presidência, responsável pelo planeamento.
O ministério dos Negócios Estrangeiros ficará nas mãos de Lindiwe Sisulu, que se retirou da corrida à liderança do ANC no ano passado.
Mbuyiseni Ndlozi, porta-voz do partido Freedom Freedom Fighters, critica as alterações. A oposição "rejeita categoricamente uma remodelação de pessoas que presidiram a captura do Estado”- termo usado no país para se referir às relações entre o ex-presidente Zuma e a família Gupta. Para o porta-voz do partido Freedom Freedom Fighters, estas alterações provam que "Cyril Ramaphosa é um Presidente fraco” e que se "deixou levar pela pressão das facções” do ANC.
Já o analista político Livhuwani Ndou entende que, da mesma forma que Ramaphosa afastou alguns ministros - como David van Rooyen e Mosebenzi Zwane, alegadamente ligados a casos de corrupção -, também teve que agradar outra facção do seu partido que não o apoiava. "Acho que há certas pessoas que Ramaphosa não gosta mas que incluiu no gabinete. Talvez pela manutenção da unidade no ANC”, começa por afirmar o analista, acrescentando que o novo Presidente "tem que tentar fazer o melhor para acomodar aqueles que dentro do partido não o apoiaram. Há áreas nas quais o Presidente se comprometeu e tem estado muito bem”.
Esta terça-feira (27.02), Cyril Ramaphosa garantiu aos líderes tradicionais que quer ver resolvido, de imediato, o problema da reforma agrária. No entanto, a forma como o vai fazer continua a ser um desafio, agora da responsabilidade dos ministros recém-nomeados.Os analistas já avisaram que tomar posse das terras sem compensação, como exigido por alguns, prejudicará a economia.
A par com a reforma agrária, o novo Governo de Ramaphosa terá como desafios a estabilização do mercado financeiro, o combate à corrupção, a criação de emprego e o aumento da confiança dos investidores.