A longa espera na fronteira entre Alemanha e Áustria
2 de novembro de 2015Placas anunciam o "último salsichão antes da fronteira" e também a "pizza bávara". Mas ao se observar mais atentamente, é possível perceber que no Western Saloon Oklahoma há dias não se serve nada ali. Do lado de dentro, as cadeiras estão sobre as mesas.
Diante do prédio, ladram os cães da Deutsche Schäferhunde SV, uma associação para criadores de pastores alemães. Na rua, estão os ônibus nas cores branca e azul da Polícia Federal alemã, à espera dos refugiados recém-chegados. Esse é o cotidiano do posto de fronteira de Wegscheid, uma pequena e idílica cidadezinha no sul da Floresta Bávara, que agora virou cenário da crise de refugiados.
Uma ponte separa Wegscheid de Hanging, na Áustria. A polícia austríaca leva para o local centenas de refugiados. Eles esperam horas pela autorização para entrar na Alemanha. Com um megafone na mão e vestindo colete de segurança laranja, o assistente voluntário Mansour Rastegar tenta manter a ordem.
"Vamos em duas filas, por favor", grita em inglês e, depois, em persa e árabe. Nascido no Irã, ele também fala alemão, com sotaque austríaco, mas a mensagem é a mesma: manter a calma. "Mas nem sempre o combinado é cumprido", reclama Rastegar, que neste dia trabalha 14 horas, traduzindo, mediando, organizando. "Quase nunca sabemos quantos ônibus vão chegar, e a polícia alemã também não sabe."
A única certeza é que eles são cada vez mais numerosos. Atrás dele, ônibus fazem fila de várias centenas de metros ao longo da estrada. Um após o outro, abrem as portas, derramando pessoas exaustas que só querem finalmente chegar a algum lugar, após dias em trânsito perigosa rota dos Bálcãs.
Cerca de 1.400 pessoas esperam para prosseguir viagem rumo à Alemanha. Steffen Herzog, da Polícia Federal alemã, observa o movimento e se diz preocupado. Está escurecendo, e os ônibus ainda continuam chegando a cada cinco minutos. De manhã, as autoridades austríacas anunciaram a chegada de 20, mas eles já são o dobro.
A fila de veículos na ponte vai crescendo, assim como a frustração entre os policiais. Muitos dos colegas de Herzog têm impressão de que a ação da polícia austríaca é uma provocação. A maior preocupação dele é um pânico em massa.
"Sempre quando muitas pessoas são colocadas juntas, a coisa em algum momento pode explodir", teme Herzog. Muitas vezes, há empurra-empurra, e há crianças de colo na multidão.
Longa espera pela sopa de legumes
A fronteira verde em Hanging não é o tipo de lugar onde as pessoas queiram ficar para passar a noite. "Famílias inteiras são deixadas lá e ficam esperando à noite no frio", relata o prefeito de Wegscheid, Josef Lamperstorfer, descrevendo as ações dos austríacos como "falta de consideração".
Centenas de refugiados têm que dormir sobre um gramado. Mais de uma dúzia de fogueiras apagadas recordam as noites frias, passadas no sereno e sob temperaturas em torno de cinco graus Celsius. Agricultores solidários trouxeram um pouco de lenha para os migrantes. Lamperstorfer considera o acampamento na fronteira "uma loucura" e reivindica conexões diretas de ônibus para abrigos alemães de acolhida, sem uma parada em uma fronteira que, conforme o Acordo de Schengen, já nem mais existe.
Depois de muitas críticas, a Cruz Vermelha austríaca construiu uma tenda aquecida para até 2 mil pessoas em um gramado no lado austríaco. Nela, os refugiados esperam três horas numa fila de cem metros de comprimento, para ganhar um prato de sopa de legumes, acompanhada de meia banana e uma fatia de pão branco.
"Isso simplesmente não é suficiente", lamenta a voluntária Tanja Thaler, enquanto distribui, com suas luvas de plástico azul, sopa em tigelas brancas de plástico. O caldo vem de um hospital próximo e teve que ganhar o acréscimo de água, para render mais e dar para todo mundo. Tanja percebeu que a quantidade, sozinha, não dava para saciar a fome de todos e foi na véspera com o namorado pedir pão velho nos supermercados próximos.
Falta organização profissional
Não há sinal de organização profissional. O negócio continua funcionando graças a voluntários, como Tanja Thaler, que vem nos fins de semana de Munique, a duas horas de distância. Ela também já trabalhou como voluntária durante a crise de refugiados na estação de trem central de Munique.
"Ao contrário de Munique, aqui está faltando organização", compara, acrescentando que as autoridades apenas fazem o mínimo para manter o local. "Eles afastam de si a responsabilidade", reclama.
"É bom que haja ajuda privada de pessoas", reconhece o namorado dela, Werner Prechtl. "Mas há uma semana que é só isso." Eles gostariam que o Estado fizesse mais. Ele sugere que o Exército atue no local, disponibilizando uma cozinha de campo e conhecimento logístico.
A cooperação transfronteiriça também deve ser melhorada, acredita Mansour Rastegar, ressaltando que a falta de coordenação entre os dois lados leva a incerteza. "Se vivemos na incerteza como ajudantes, não podemos tranquilizar os refugiados."
Em uma coisa, ambos os lados concordam: fechar a fronteira, como deseja o governador da Baviera, Horst Seehofer, dificilmente melhoraria a situação. Os refugiados, provavelmente, conseguiriam encontrar um outro caminho, embora sem as tendas aquecidas e suprimentos de emergência da Cruz Vermelha.
Esse é um cenário que assusta a muitos aqui. Com neve e temperaturas abaixo de zero, há ameaça de uma catástrofe humanitária.