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A queda de Eike Batista, o empresário que simbolizou a ascensão brasileira

Fernando Caulyt15 de julho de 2013

Crescimento e derrocada do brasileiro que queria ser o homem mais rico do mundo se confundem com desempenho da economia. Com dívidas bilionárias e desconfiança do mercado, retomada a curto prazo é tida como improvável.

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Foto: Getty Images

Quando, há pouco mais de dois anos, Eike Batista disse que um dia se tornaria o homem mais rico do mundo, poucos duvidaram. Era início de 2011, o Brasil acabara de fechar o ano com um crescimento de 7,5%, e o bilionário parecia encarnar essa ascensão. Eike era carismático, competitivo e ousado como o país dono de um dos maiores crescimentos econômicos do mundo deveria ser.

"Tenho que concorrer com o senhor Slim", disse na época, em referência ao bilionário mexicano Carlos Slim. "Não sei se vou passá-lo pela esquerda ou pela direita, mas vou ultrapassá-lo."

Carlos Slim é, ainda hoje, o homem mais rico do mundo segundo a revista Forbes. Já Eike Batista despencou da sétima para a centésima colocação. Da mesma forma que ascendeu como o Brasil, o bilionário parece agora espelhar a queda da economia brasileira – minada por um crescimento minguante, uma inflação galopante e, mais recentemente, uma onda de protestos.

Em 2011, o brasileiro tinha uma fortuna estimada em cerca de 30 bilhões de dólares, mas, desde o ano passado, viu o valor de suas empresas desmoronar por causa, sobretudo, de uma crise de confiança do mercado. Hoje, seu patrimônio é estimado pela Forbes em 10,6 bilhões de dólares, e uma retomada aos níveis de dois anos atrás é tida como improvável.

"Fiquei chocada quando, em 2011 e 2012, o mercado valorizou, de forma excessiva, as ações da OGX e de outras empresas de Eike Batista. A OGX [braço de petróleo do Império X] era uma companhia com uma produção muito pequena, mas foi avaliada como se fosse ultrapassar o valor de mercado da Petrobras", diz à DW Brasil Kerry Dolan, coeditora do ranking de mais ricos do mundo divulgado pela Forbes.

Eike Batista und Dilma Rousseff
Eike Batista e Dilma Rousseff durante celebração da primeira extração de petróleo realizada pela OGX, em abril de 2012Foto: J.Silva/AFP/GettyImages

Entre os motivos para a queda de Eike, segundo analistas, está justamente o fato de o empresário ter prometido resultados exorbitantes e não ter conseguido colocá-los em prática – o que acabou por afastar investidores estrangeiros. Como exemplo, a OGX tinha a meta de produzir entre 40 mil e 50 mil barris por dia em 2013, mas até maio só tinha produzido 10 mil.

"Eike era muito bom em vender a sua visão. A grande queda ocorreu porque ele não conseguiu tirar seus planos do papel", afirma a também editora sênior da Forbes.

Centralizador de decisões

Outro problema é o que analistas consideram uma gestão baseada na vaidade e pouco preocupada com os custos dos projetos, além de uma administração que dava prêmios excessivamente altos a executivos sem que apresentassem resultados concretos para a empresa.

"Ele se colocava na imprensa como o superpresidente, ou seja, centralizava todas as decisões de suas empresas. Isso, no mundo de hoje, é um grave defeito de um empreendedor, principalmente quando você centraliza as decisões de um império. Além disso, comprar o Hotel Glória e outras empresas menores foi uma bobagem grande, uma vaidade", explica Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

A política petrolífera do Brasil, segundo Pires, também é outro fator que levou Eike para o buraco. A empresa arrematou 21 blocos leiloados na nona rodada de licitação da Agência Nacional de Petróleo (ANP), em 2007. E, de lá para cá, o governo só retomou os grandes leilões em maio deste ano, ao ofertar novos blocos do pré-sal.

"A OGX ficou centralizada nesses blocos e não teve a oportunidade de comprar outros e de fazer novas parcerias em um momento em que estavam capitalizados depois de fazer, em junho de 2008, o maior IPO [oferta pública de ações] da história da bolsa brasileira", frisa Pires. "E empresa de petróleo é uma atividade de risco, você tem que colocar novos blocos para substituir os que não deram certo."

Brasilien Ölplattform P-26 Petrobras
Plataforma da P-26, da Petrobras: empresa estatal foi acionada para negociar com Eike BatistaFoto: picture-alliance/dpa

Incerteza sobre novas ajudas

Diante dos problemas, Eike Batista conseguiu para o seu conglomerado um empréstimo de 10,4 bilhões de reais concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – valor repassado de forma gradual de acordo com a execução dos projetos.

A derrocada de suas empresas seria ruim para o país, e a ajuda se fez necessária. Novos empréstimos, no entanto, são considerados improváveis devido à atual situação política e econômica brasileira. Da mesma forma que se beneficiou da ascensão do país, o bilionário agora também sofre com a conjuntura negativa e com a incerteza.

"O governo brasileiro não vai poder ajudá-lo neste momento em que a população brasileira está reclamando do excesso de impostos, de ações perdulárias e de gastos exagerados do governo para financiar empreendimentos que não estão dando retorno. Ele terá dificuldades para se recuperar", afirma Antônio Flávio Testa, especialista em estratégia empresarial da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A Petrobras e até alguns ministros chegaram a ser acionados pelo governo federal para negociar e tentar ajudar Eike, mas o risco político, em meio aos protestos, era grande. Mesmo assim, as negociações continuam, mas sem alarde. Estima-se que as empresas X devam cerca de 28 bilhões de reais.

"Acho que não há espaço político para o governo dar uma ajuda ao Eike. Ele entrou numa crise no momento em que a economia brasileira vai mal", opina Pires.

Sem o apoio do governo, Eike vem tentando resolver seus problemas por conta própria, vendendo ativos de algumas empresas e recebendo o auxílio de companhias parceiras. Como exemplo, a empresa de energia MPX vai receber um reforço de caixa de 800 milhões de reais da alemã E.ON, que detém 24,5% da MPX, e do Banco BTG Pactual. Em contrapartida, Eike Batista renunciou à presidência do Conselho de Administração da companhia, o que fez as ações subirem.

Brasilien Milliardär Eike Batista
O bilionário conseguiu para o seu conglomerado empréstimo de 10,4 bilhões de reaisFoto: picture-alliance/dpa

Especialistas são quase unânimes em afirmar que ao menos parte dos projetos ambiciosos de Eike Batista vão sobreviver, mas talvez nas mãos de outros investidores. Porém, o patamar de 2011, afirmam, dificilmente será alcançado. E o sonho de ultrapassar Slim parece totalmente descartado, pelo menos a médio prazo.

"Acho difícil a recuperação. Ele tem patrimônio ativo para não dar calote nos bancos e está reestruturando as empresas. Mas voltar ao que era, a curto prazo, é impossível", diz Pires. "É uma pena, pois ele era um empresário que gerava empregos e riquezas para o país. E o Brasil precisa de mais empresários privados e empreendedores."