Presidentes podem governar bem ou mal. Mas isso tem pouco impacto em suas chances de reeleição. Porque não importa o quão bons ou incompetentes eles sejam – é o crescimento econômico que determina a aprovação dos governos e, portanto, suas perspectivas de conquistar novos mandatos.
E governos em países ricos em recursos naturais ou commodities como o Brasil têm influência particularmente pequena nesse processo: os preços das matérias-primas são determinados pelo mercado mundial, e taxas de juros são estabelecidas pelos países industrializados. Portanto, o governo do Brasil tem pouca influência para determinar se investimentos ou capitais vão entrar no país.
Volatilidade
Essa é uma das conclusões do estudo: A maldição da volatilidade, publicado pelos cientistas políticos Cesar Zucco e Daniela Campello, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Eles mostram que, desde 1980, governos brasileiros somente foram bem-sucedidos na escolha de um sucessor ou em conquistar a reeleição quando os preços das matérias-primas estavam em alta e as taxas de juros seguiam baixas.
O motivo: empréstimos do exterior e a entrada de dólares para a compra de soja ou minério de ferro impulsionam o crescimento. Além disso, fundos adicionais permitem que governos invistam mais em gastos sociais – fazendo com que eles permaneçam populares mesmo com o contraste entre pobres e ricos.
Isso não se aplica apenas ao Brasil, mas a toda à América do Sul. Os governos de Hugo Chávez na Venezuela, os Kirchners na Argentina, Lula no Brasil e também Michelle Bachelet no Chile: todos se beneficiaram de um superciclo de matérias-primas de 2003 a 2011. Todos surfaram em altos índices de aprovação. E eles tiveram a sorte de chegar ao poder na hora certa.
Foi diferente com os sucessores. Eles tiveram azar. Quando o ciclo acabou, as taxas de aprovação despencaram rapidamente: foi o que aconteceu com Dilma Rousseff no Brasil, Mauricio Macri na Argentina, Nicolás Maduro na Venezuela. Os baixos índices de aprovação de Bachelet ou de Cristina Kirchner em seus segundos mandatos, a partir de 2014, também mostram que o sucesso depende pouco da habilidade dos detentores do poder. O fator externo exerce enorme influência.
Chances para Bolsonaro?
Pela mesma lógica, pode-se traçar o seguinte cenário para as eleições presidenciais no Brasil em 2022: se a alta dos preços das matérias-primas persistir e as taxas de juros nos EUA permanecerem baixas, o Brasil poderá crescer mais rapidamente do que o esperado. Além disso, grande parte da população deve ser vacinada nos próximos 12 meses, fazendo com que a economia não sofra mais os efeitos do coronavírus e da imposição de medidas de isolamento social, estimulando ainda mais o crescimento.
Recentemente, o governo Bolsonaro também se fortaleceu politicamente. Surpreendentemente, o presidente conseguiu assegurar a vitória de aliados entre os novos caciques do Congresso. Num eventual cenário de retomada do crescimento e aumento da popularidade do governo, o Centrão dificilmente vai se voltar contra o presidente. Os deputados e senadores também desejam ser reeleitos, e os canais abertos com o governo são particularmente importantes.
Não custa lembrar: Lula também parecia estar na lona em 2005 por causa do escândalo do Mensalão. Mas o boom de matérias-primas e o apoio do Centrão fortaleceram sua Presidência a partir de 2006, assegurando sua reeleição.
A conclusão: mesmo figuras como Bolsonaro têm uma boa chance de permanecer no poder quando a economia está em alta.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.