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Abrigo para refugiados preocupa moradores em Paris

26 de outubro de 2016

Novo centro para acolhimento e realocação de migrantes está causando alvoroço entre moradores do bairro de Porte de la Chapelle, no norte na capital. Prefeitura trata projeto como modelo.

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No centro de refugiados em Paris está planejado de forma temporáriaFoto: Mairie de Paris/Jean-Baptiste Gurliat

Paris vai inaugurar no fim deste mês um novo centro para o acolhimento e realocação de refugiados, no norte da cidade. Espera-se que a nova unidade possa acolher entre 400 e 600 homens. Eles receberão roupas, comida, assistência médica e social. Depois de dez dias, serão transferidos para abrigos temporários em toda a França, onde permanecerão até que seu pedido de asilo seja processado. Um segundo centro, para o acolhimento apenas de mulheres e crianças, vai ser aberto no subúrbio de Ivry, ao sul da capital, no próximo ano.

Na França, o Estado é responsável pelo cuidado dos migrantes. No entanto, em meados do ano, a prefeita Anne Hidalgo perdeu a paciência com a incapacidade do governo de fornecer uma solução permanente para tratar de um problema que já está em curso há meses. A abertura do centro em Paris foi anunciado, então, sem o aval oficial do governo.

"Para nós, é uma questão de honra receber migrantes de forma digna", afirmou recentemente Dominique Versini, responsável na prefeitura parisiense por questões relacionadas à infância, família e luta contra exclusão. "Precisávamos de uma solução de longo prazo e não podemos ter essas pessoas vulneráveis vivendo nas ruas com um tempo cada vez mais úmido e frio a cada dia."

Desde que o afluxo de refugiados em direção à Europa se acelerou no último verão, chegam diariamente entre 50 e 80 migrantes à capital francesa. Milhares têm acampado em diferentes partes da cidade. A maioria deles é formada por homens provenientes de países como Iraque, Afeganistão, Eritreia e Sudão. O governo pôs abaixo 28 desses acampamentos improvisados, transferindo os migrantes – 19 mil no total – para abrigos provisórios.

Queda de braço

No ano passado, o governo se opôs a uma primeira tentativa de Hidalgo de abrir um centro de acolhimento, mas acabou aceitando a iniciativa. O Estado vai investir mais de 8 milhões de euros no primeiro ano: 20% do investimento inicial e metade dos custos de funcionamento.

O governo também se comprometeu a fornecer e pagar por 1,2 mil vagas adicionais em abrigos provisórios a cada mês. Elas são necessárias para assegurar que os migrantes possam seguir em frente depois de dez dias.

A demanda por novas vagas pode aumentar agora que o acampamento improvisado conhecido como "Selva de Calais" está sendo desmontado e fechado, com os migrantes sendo transferidos para abrigos em todo o país.

Para Versini, o novo centro em Paris pode se tornar modelo. "Esta é a melhor maneira de lidar com a situação", disse ela, acrescentando que a França precisa ao menos de três ou quatro centros de realocação como aquele a ser inaugurado na capital francesa.

Paris Flüchtlingslager
Moradores querem que uma universidade seja construída no localFoto: Mairie de Paris/Jean-Baptiste Gurliat

Temores

Para alguns residentes da região de Porte de la Chapelle, onde a nova unidade está sendo montada, a solução está longe de ser ideal. O bairro operário é uma das áreas mais pobres da capital francesa, conhecida por seus problemas com dependentes de drogas, prostituição, vendedores de rua e táxis ilegais, e jovens violentos.

Farid Ouahabi, gerente do restaurante Le Pari'Go, afirma que a construção do centro de acolhimento e realocação na região significa adicionar mais miséria a um mundo de pobreza.

"Eles tinham que construir este centro no nosso bairro?", indaga Ouahabi, enquanto serve café no balcão. "Todos os meus clientes estão reclamando sobre o projeto. Estamos cansados da situação e tememos que ela fique ainda pior."

Do outro lado da rua, Fatiha trabalha numa creperia. Quando seu trabalho termina, às 22h, ela tem que pegar o carro num estacionamento subterrâneo a 200 metros dali. "Minha viagem para casa já é um pouco assustadora, mas agora tenho medo de que ela fique ainda mais tenebrosa – especialmente se o centro for ocupado somente por homens", afirma.

Muitas das suas clientes estão com medo do que está por vir – principalmente devido a suas crianças, acrescenta Fatiha. "Uma cliente me disse que sua filha de 13 anos lhe pediu para que ela a buscasse na escola todos os dias a partir de agora, já que a menina não se sentia mais segura."

"Projeto inovador"

Bruno Maurel, da associação de caridade Emmaüs Solidarité, operadora do campo de acolhimento e realocação de refugiados, diz que as pessoas devem parar de ter medo dos migrantes sem uma razão plausível.

Paris neue Flüchtlingslager
Residentes, como Farid Ouahabi, temem que a área fique ainda mais desoladaFoto: DW/L. Louis

"As coisas estão indo muito bem em todas as unidades para onde os 19 mil migrantes foram deslocados a partir de Paris", diz Maurel à DW. "Estamos criando algo realmente inovador aqui em Paris e deveríamos ser positivos sobre isso", conclui o ativista.

Mas os moradores locais dizem que estão ansiosos para ver outro projeto no local: um campus universitário. As obras na Universidade Concordet de Ciências Sociais e Humanas estão planejadas para começar em março de 2018. Agora, muitos temem que o projeto seja adiado ou cancelado.

"É como se tivesse havido um vislumbre de esperança no fim do túnel com ao menos um projeto positivo para o bairro, e agora tudo está se escurecendo novamente", diz Abdelhakim Balit, um livreiro que trabalha na região.

Dominique Versini diz que o projeto será construído a tempo. "Nosso centro de acolhimento vai permanecer ali somente por 16 meses e já estamos procurando um novo local para depois", explica. "A unidade foi especialmente concebida para isso, em módulos, de forma que possa ser facilmente montada e desmontada."

Versini afirma ainda que as pessoas contrárias ao centro são uma minoria. "A maioria das pessoas quer ajudar e está contente que, finalmente, os migrantes não vão mais acampar nas ruas."