Alemanha aproxima-se da Líbia
15 de outubro de 2004Até há poucos anos, o chefe do governo líbio ainda integrava a lista de malfeitores acusados de patrocinarem o terrorismo internacional. Hoje, Muammar Kadafi é cortejado como importante parceiro para negócios com petróleo e nas políticas de segurança e de refugiados. O isolamento de Kadafi começou a ter fim em 2003, quando assumiu a responsabilidade do atentado de Lockerbie e indenizou as famílias das vítimas.
Além disso, a Líbia prometeu indenizações por todos os atentados de que seu país tenha participado. Há pouco tempo, comprometeu-se a pagar 35 milhões de dólares às vítimas do atentado à discoteca La Belle, em 1986. O atentado contra o estabelecimento berlinense, freqüentado principalmente por norte-americanos, teve três mortos e mais de 200 feridos.
Fim de um capítulo negro
Numa demonstração de reconhecimento, o chanceler federal Gerhard Schröder viajou a Trípolis, onde se encontrou duas vezes com o coronel Kadafi em sua barraca de luxo. Schröder conceituou a aproximação como um "novo começo das relações, tornado possível graças à disponibilidade de indenização às vítimas do atentado à discoteca berlinense". O líder líbio, por seu lado, considerou o encontro "uma visita de amizade". Seu país aguarda uma recompensa do Ocidente, depois que desistiu de armas de destruição em massa, disse o coronel de 61 anos.
Para Schröder, "está na hora de a Líbia fortalecer suas relações com a União Européia". Para isso, citou como oportunidade o Processo de Barcelona, que visa, a longo prazo, uma associação com países do norte da África e da região do Mediterrâneo para uma zona de livre comércio.
Berlim apóia categoricamente o ingresso da Líbia na Organização Mundial do Comércio (OMC), assegurou o chefe de governo alemão, que também apelou a Trípolis que direcione suas reformas econômicas de tal forma, para que o objetivo seja uma economia social de mercado.
Boas perspectivas de negócios
Schröder inaugurou na manhã desta sexta-feira (15/10) no deserto líbio um novo campo de exploração de petróleo da empresa alemã Wintershal (Basf), que não queima os resíduos de gás, evitando assim a produção de dióxido de carbono. Esta preocupação com o meio ambiente, segundo Schröder, é uma grande vantagem das empresas alemãs diante da concorrência internacional.
Na ocasião, ele destacou ainda "as enormes possibilidades oferecidas pelo mercado líbio aos empresários alemães, não só no setor energético, também de infra-estrutura". Empresários alemães têm grande interesse em investir nas áreas de usinas e de abastecimento de energia elétrica.
Schröder foi contra a sugestão de Kadafi, de que países árabes e europeus formassem um bloco contra os Estados Unidos. Rejeitou, também, o pedido de indenização pelas minas deixadas pelas tropas alemãs em território líbio durante a Segunda Guerra. Kadafi havia reclamado que ainda hoje as minas causam muitas vítimas e sua remoção é muito cara. Ao que o chanceler federal alemão se dispôs a averiguar a possibilidade de oferecer outro tipo de ajuda às vítimas, seja junto aos hospitais líbios ou em forma de equipamentos.
Campos de refugiados fora da pauta
A possível construção, na Líbia e em outros países africanos, de campos de refugiados que pretendem emigrar para a Europa não foi tema em seus encontros com Muammar Kadafi, disse Schröder.
Por outro lado, o social-democrata alemão intercedeu a favor de cinco enfermeiras búlgaras condenadas à morte no país de Kadafi. Da mesma forma como outros chefes de governo ocidentais, Schröder apelou pela rápida libertação das mulheres. Um tribunal líbio as havia considerado culpadas de terem contaminado deliberadamente mais de 400 crianças com o vírus da Aids na cidade portuária de Benghazi. A Bulgária acusa a Líbia de ter forçado as confissões através de tortura.
Gerhard Schröder prosseguiu na Argélia sua viagem pelo norte da África