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Alemanha atuará na defesa da Otan em caso de guerra

Marcio Weichert12 de dezembro de 2002

Chanceler federal assegura que alemães farão vôos de controle somente do espaço aéreo da Otan, em caso de guerra com Iraque. Participação passiva encontra resistência entre os verdes e social-democratas.

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Avião Awacs decolando da base alemã de GeilenkirchenFoto: AP

Em seu malabarismo para não quebrar mais uma promessa de campanha eleitoral e não deixar de cumprir suas obrigações com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, bateu o martelo sobre a participação de tripulantes alemães nos aviões de reconhecimento Awacs.

"Nossos deveres com a aliança serão cumpridos, mas a Alemanha não participará de uma intervenção militar. Isto significa que, para a proteção do território da aliança, inclusive da Turquia, que é um membro dela, os aviões Awacs serão tripulados por soldados alemães. Eles serão empregados apenas na área da aliança", declarou o chefe de governo, que prometera na última campanha eleitoral que a Alemanha não participaria de um ataque ao Iraque, mesmo que houvesse mandato da ONU.

Os Awacs são aeronaves equipadas com um enorme radar sobre a fuselagem. Sua aplicação concentra-se no controle do espaço aéreo. A Otan possui 18 deles, a Grã-Bretanha, sete, e a França, quatro. Cinco aviões europeus atuaram nos Estados Unidos, dentro da operação antiterror Liberdade Duradoura, de outubro de 2001 a maio de 2002, uma vez que Washington transferiu alguns de seus 33 para o Afeganistão e região. Os alemães correspondem a um terço dos tripulantes dos Awacs da Otan.

Polêmica no governo

– A decisão de Schröder não conta com o respaldo de toda sua base de apoio, especialmente dentro do Partido Verde. Eleita no último fim de semana, a nova presidente da legenda, Angelika Beer, já havia se posicionado até mesmo contra uma participação passiva da Alemanha. "Ela não decide isto. Minha posição foi acertada, naturalmente, com o ministro do Exterior (o verde Joschka Fischer) e na mais estreita e amigável cooperação. Esta é uma decisão executiva do governo e assim será tomada", afirmou o chanceler social-democrata.

Mas mesmo em seu partido há resistências a esta posição. Para o vice-líder da bancada federal, Gernot Erler, o chefe de governo está indo longe demais. "Estamos ultrapassando nossa linha vermelha, que diz: não à participação na guerra contra o Iraque, seja com soldados ou com dinheiro", alerta Erler.

Participação passiva

– A decisão anunciada por Schröder pode ferir parcialmente sua promessa de campanha, mas é o mínimo a que a Alemanha tem por dever. A complicada situação começa no fato de os Awacs da Otan terem como base a cidade alemã de Geilenkirchen, próxima à fronteira com a Holanda e Bélgica. Ou seja, caso não libere seu espaço aéreo e não ceda seus tripulantes, a Alemanha estaria na prática impedindo que a aliança militar usasse as aeronaves.

Participar somente de vôos dentro do espaço aéreo da Otan a fim de proteger seus aliados militares pode soar pacifista, mas indiretamente significa contribuir para que os Estados Unidos, por exemplo, possam mobilizar mais equipamentos e contingentes próprios para um ataque, tendo um aliado para substituí-las na defesa. A Turquia também está no cerne da questão, pois pode ser alvo de um contra-ataque, uma vez que os EUA usam as bases da Otan no país para suas missões no vizinho Iraque.

Este assunto, porém, parece liqüidado por decisão pessoal de Schröder. Vários outros pontos permanecem obscuros, como que posição tomará a Alemanha no Conselho de Segurança da ONU, o qual passará a integrar interinamente a partir de janeiro. "A evolução dos fatos no Iraque são imprevisíveis", afirma Béla Anda, porta-voz do governo alemão, ao recusar-se a avaliar hipóteses do resultado das inspeções no país do Golfo Pérsico, suspeito de produzir armas de extermínio em massa.