1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Alemanha conta com 40 mil falências em 2002

Neusa Soliz4 de abril de 2002

A onda de falências e concordatas na Alemanha parece não ter fim. Os bancos estarão numa situação difícil este ano e as pequenas e médias empresas poderão ficar sem financiamento.

https://p.dw.com/p/23fe
Logotipo da empreiteira Philipp Holzmann, uma das grandes falências deste anoFoto: AP

A Alemanha enfrentará este ano uma das mais violentas ondas de concordatas e falências de sua história, embora no horizonte da conjuntura já tenham despontado os primeiros raios de sol. A lista do primeiro trimestre é encabeçada por nomes que ocuparam as manchetes nas últimas semanas: Holzmann, Fairchild-Dornier e Herlitz. Todas empresas tradicionais e de renome internacional, que pediram concordata recentemente. A elas provavelmente deve juntar-se, talvez esta semana, o KirchGruppe, o maior grupo de mídia alemão e um dos maiores do mundo.

A ponta do iceberg

- A série é apenas a ponta visível do iceberg de falências. Em 2001 os casos aumentaram 14%, totalizando cerca de 32.300 empresas. Mais de 200 mil empregos foram afetados. O setor da construção civil foi o mais atingido, com 9 mil concordatas. O Centro de Informações Econômicas Creditreform calcula em 40 mil o número de concordatas este ano, um aumento de quase 25%. A insolvência de grandes empresas deverá elevar o prejuízo dos credores a mais de 30 bilhões de euros, que foi a soma referente às concordatas de 2001 no país.

O fim da recessão

- A onda de falências, contudo, não impressiona os especialistas, pois isso costuma acontecer na fase final de uma recessão. "É quando as empresas esgotaram suas reservas e precisam de dinheiro novo", diz Erich Gluch, do Instituto de Pesquisas Econômicas de Munique, citado pelo diário econômico Handelsblatt. Casos de insolvência são uma espécie de indicador retardado de uma fase de desaquecimento. Mas se sinalizam o fim de uma recessão, como afirma o economista-chefe do HypoVereinsbank, Martin Hüfner, não servem como indicador de início da retomada do crescimento econômico.

Apesar de problemas específicos que as empresas acima mencionadas enfrentaram, cada qual em seu setor, todas já haviam passado por fortes turbulências no passado, tendo recebido apoio dos bancos e aval do Estado para novos créditos. Por mais diferentes que sejam as causas da falência – as principais são a falta de capital próprio e problemas estruturais - os bancos logo são apontados como responsáveis. Nos casos em questão, eles injetaram milhões em empresas que demonstraram ser "barris sem fundo". A impressão que se tem agora é de que resolveram fechar a torneira.

O difícil papel dos bancos

Os próprios bancos lutam por sua sobrevivência, num cenário caracterizado por forte concorrência, desaquecimento da conjuntura e pouca renda com transações nas bolsas de valores. Fechamento de filiais e corte de milhares de empregos estão na ordem do dia, e mesmo isso provoca custos. Além das concordatas no país, os grandes bancos alemães também foram afetados pela falência da Enron nos EUA e das companhias aéreas Sabena e Swissair. Muitos detêm participação em empresas que enfrentam dificuldades.

Os prejuízos

- No final do ano passado, o Deutsche Bank tinha créditos problemáticos no montante de 12,7 bilhões de euros e o HypoVereinsbank, de 12,9 bilhões de euros. Para fazer frente à situação, o Deutsche Bank aumentou sua provisão de risco em 134% para mais de um bilhão de euros. Conceder créditos a firmas está deixando de ser atraente para os bancos por empatar demasiado capital e não render muito.

Para os bancos, a insolvência de grandes empresas que abrem concordata acaba saindo mais caro do que conceder novos créditos. O grupo de mídia Kirch é um bom exemplo disso. Como seus créditos não estão bem assegurados, os credores terão que amortizar pelo menos uma parte do dinheiro. Como isso dói e pesa no balancete, os bancos tentam de tudo para evitar o colapso de uma empresa, como aconteceu com a empreiteira Holzmann e ocorre com o grupo de Leo Kirch.

Mesmo assim, as negociações acabam fracassando por pouco dinheiro. No caso da Holzmann, para quem os bancos já haviam amarrado um pacote financeiro de mais de 2 bilhões de euros em 1999, no final foi-lhe negado um crédito de 250 milhões de euros. Quanto à Herlitz, fabricante de material de escritório com quase cem anos de tradição, a importância foi menor ainda: 30 milhões de euros de crédito e um aval estadual de 20 milhões de euros.

Financiamento das empresas

- Essa política dos bancos, porém, abriga o risco de um círculo vicioso. Para o presidente do BC alemão, Ernst Welteke, os bancos estarão "numa situação difícil em 2002". Uma política reservada de créditos representará mais problemas para as empresas. O Instituto de Crédito para a Reconstrução KfW), que é federal, teme justamente um impasse no financiamento das oequenas e médias empresas. Por isso, o KfW está desenvolvendo programas e instrumentos para reduzir os riscos para os bancos e garantir créditos a esse grupo de empresas.