Cata-ventos no mar
15 de julho de 2008
Em meio aos atuais debates sobre energia na Alemanha, desencadeados pelo aumento do preço do petróleo, pela controversa defesa da energia nuclear como alternativa ecologicamente viável e pela pressão de respeitar os níveis prescritos de emissão de CO2, a Alemanha anunciou um grande projeto de energia eólica para os próximos anos.
O ministro dos Transportes, Obras e Planejamento Urbano, Wolfgang Tiefensee, comunicou que pretende construir 30 parques de energia eólica no Mar do Norte e no Báltico. Cada um custará 1 bilhão de euros. A meta é reduzir cada vez mais a dependência da Alemanha de fornecedores estrangeiros. Com esse parque, o governo espera obter 25 mil megawatts de energia em 2030.
Mapeando águas desconhecidas
Trata-se de uma meta ambiciosa, considerando que a Alemanha não tem nenhum aerogerador no litoral. Os planos do ministério implicam sobretudo diversos desafios de ordem técnica.
"A Alemanha é líder mundial na tecnologia eólica em terra, mas – quanto aos parques em água – ainda está mapeando terreno desconhecido", explicou Ulf Gerard, porta-voz da Associação Alemã de Energia Eólica.
Diante da demanda de turbinas em todo o mundo, o setor eólico teve um surto de exportações nos últimos anos. Com uma produção anual de cerca de 19,5 mil aerogeradores com capacidade de 23 mil megawatts, o setor ocupa mais de 80 mil pessoas, tendo gerado 8 mil empregos no país só no ano passado.
A Alemanha, conhecida por suas credenciais ecológicas, se absteve até agora de explorar a tecnologia eólica no mar – uma tecnologia cada vez mais aceita em todo o mundo como fonte renovável de grandes quantidades de energia não poluente.
Os especialistas atribuem a relutância alemã aos crescentes custos de aço e cobre, ao ceticismo dos investidores e ao fato de a tecnologia eólica em água ainda ser incipiente no país.
Incentivos para investidores
No mês passado, o Parlamento alemão eliminou um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento de parques eólicos marítimos, ao alterar a Lei das Energias Renováveis e elevar a chamada "feed-in tariff" para energia eólica produzida no mar de 9 cents para 15 cents de euro. Trata-se da tarifa paga aos proprietários de sistemas de energias renováveis, quando a energia de seus sistemas é fornecida à rede pública. O aumento da tarifa tornou mais atraente, portanto, a produção de energia eólica.
"Quem investir na construção de parques eólicos no mar pode calcular o quanto deverá esperar de retorno até 2015, prazo de validade do valor recém-estipulado", comentou Albrecht Tiedemann, especialista da Agência Alemã de Energia, sediada em Berlim.
Riscos em alto-mar
Ao contrário dos parques eólicos marítimos existentes na Dinamarca, na Holanda e no Reino Unido, todos situados a apenas alguns quilômetros de distância da costa, os alemães serão construídos em alto-mar, entre 40 e 80 quilômetros do litoral – um projeto pioneiro em todo o mundo.
Para adquirir a licença para construir parques eólicos marítimos afastados do litoral alemão, o investidor interessado tem que submeter seu projeto a uma monitoração ambiental rigorosa durante mais de um ano. Tudo isso para garantir que os cata-ventos não perturbarão os frágeis ecossistemas marinhos, a fauna e particularmente a região do wattenmeer, faixa costeira do Mar do Norte passível de grandes variações de maré, sob proteção ambiental.
O plano de construir os parques eólicos longe do litoral também visa proteger o turismo e poupar os banhistas da vista pouco pitoresca dos aerogeradores em pleno mar.
Grande riscos logísticos e financeiros
É inegável que os padrões ambientais tornam mais difícil o transporte e a instalação dos pesados equipamentos necessários para montar os parques eólicos. Isso inclui cinco enormes turbinas com mais de cem toneladas cada e quase 200 metros de altura.
Na avaliação dos especialistas, as longas distâncias, a profundidade das águas e a falta de redes de energia tornam o empreendimento em mar duas a três vezes mais dispendioso do que em terra.
Instalar cabos subaquáticos cujos custos são estimados em 1,5 milhão de euros por quilômetro, fixar os cata-ventos no mar a mais de 25 metros de profundidade, proteger as enormes turbinas da corrosão e garantir a manutenção do parque tão longe da terra são desafios logísticos e financeiros que implicam um risco razoável.
O primeiro parque eólico marítimo da Alemanha será construído perto da ilha de Borkum, no Mar do Norte. Três grandes conglomerados de energia – Eon, EWE e Vattenfall – planejam instalar seis turbinas a 45 quilômetros da ilha ainda este ano. No próximo ano, serão mais seis.